“Los Angeles Cidade Proibida” (L.A. Confidential)

“Los Angeles Cidade Proibida” (L.A. Confidential)

De todas as venturas e desventuras tratadas nesse filme, incluindo as forjadas em letras graúdas borrifadas de sangue, justo as menores, as quase escondidas, são as que saltam à mente na hora da reflexão. Revelam os grandes anseios de seus personagens em pequenas falas ou em objetos pessoais, como a almofada de Kim Basinger, bordada com a estampa de sua terra natal.

São, de fato, pequenos exemplos.

Um personagem secundário dirá para Kevin Spacey que quando chegou em L.A. tinha tantos planos, e que não imaginava que teria de fazer certas coisas para sobreviver.

A vida no Grande Moedor é assim: ou você é carne para o moedor, ou você a fornece. Não há opção.

De acordo com “São Jorge do Arpoador”, poucos serão os eleitos a pisotear o novo éden após a queda do meteoro. Assim, os sobreviventes 2013 irão se acotovelar em torno de uma fogueira e falar sobre os filmes dos anos 90.

O Oscar de 97 foi para “O paciente inglês” mas as associações dos críticos de LA, NY e Boston elegeram a presente película como Melhor Filme, Diretor e Roteiro Adaptado.

“Los Angeles...” não é uma história com vários núcleos, é de certa forma a abordagem histórica sobre um núcleo – a famigerada LAPD, irrigando piscinas menores, ainda que algumas sejam internas.

Tem a piscina da Kim e a prestação de serviços sofisticada: prostitutas que se parecem com atrizes famosas, que ela integra o time e faturou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pelo papel.

Do núcleo central, e como policial “chão de fábrica”, Russel Crowe se move carregando um passado amargurado que pretende justificar suas ações truculentas do presente.

Há o sargento incólume Kevin Spacey, que age com a indiferença dos peixes que nadam em meio a tubarões.

E Guy Pearce, o novo tenente dotado de ambição com critério, tenaz face ao destino e subestimado pelos colegas. Vencidos os antagonismos, em tempos diferentes esse trio fará alianças e suas ações servirão de fluído para uma das boas características do filme: ele não perde o ritmo.

Na última piscina, o narrador não linear Danny De Vitto, com seu rarefeito tráfico de influências e seu jornal de fofocas, o “Hush-Hush”, repleto de escândalos sobre personalidades e o hedonismo fast-food de sexo e drogas.

Resumindo as piscinas: corrupção, prostituição, entorpecentes, sensacionalismo. Dito assim, parece nu e cru, mas a Direção de Arte (indicada pela Academia), deixou a pílula de tal jeito que você quase não se incomoda com o principal artigo inerente ao núcleo: a violência.

Baseado no romance de James Ellroy, “L.A...” se mexe num misto: faz as vezes de romance histórico, colocando fatos verídicos em meio a trama com um leve escorregar de anos, já que o filme se passa em 53 e fatos de 51 e 54, por exemplo, estão presentes no ano proposto. Tipo de licença poética que funciona muito bem se revela seu embasamento. Outro lado do misto: filme policial com polícia de terno, gravata e chapéu, remetendo à distância o comportamento Bogart/ Mitchum. Bem à distância, algo mais na aparência, pois quando os personagens tem de tratar de assuntos delicados, por assim dizer, o verbo soa com a crueza das ruas.

Curtis Hanson (“A mão que balança o berço”, “8 Mile”) assina a direção e parte do roteiro. É também mérito dele, mesmo numa escala menor, a irretocável Los Angeles de 1953. Muita gente que filma priscas eras se empenha em nos enganar com golpes baixos, tais como um sem número de internas e planos fechados. Isso não acontece por aqui e dá para imaginar o quanto cabeças pensantes se esforçaram para conseguir essa recriação. Que para nós é recreação.

O cinema americano, com todos os seus prós e contras, traz consigo um atestado, quiçá uma espécie de fórmula particular, infelizmente ainda pouco assimilada nos cinemas de outras plagas. E não estamos computando as exceções, evidentemente. Enfim, o cinema americano é cinematográfico, e “...Cidade Proibida” não nega sua origem.

Os heróis Guy e Russel, também de uma forma bastante particular, irão cortejar a bela Basinger.

- Algumas pessoas conseguem o topo do mundo – diz Kim Basinger para Guy Pearce – já, outras...(se referindo a Crowe, no banco de trás do carro, mudo e cheio de bandagens) – ...outras só conseguem uma ex-prostituta e uma viagem para o Alabama.

Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 26/11/2009
Reeditado em 31/01/2013
Código do texto: T1945169
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