“Um Sonho Possível” (The Blind Side)

“Um Sonho Possível” (The Blind Side)

O título em português não deixa de ser um recado inspirador.

Sim, é possível, se todo mundo fosse como a família Tuohy.

Uma boa sacada do roteiro foi colocar as fotos da verdadeira família Tuohy nos créditos finais. Te dá um clique na consciência, entre o inverossímil que se passa no filme com as fotos reais no final. São elas que atestam: acorda, isso parece um sonho, mas é real.

Na Ilustrada do último dia 7, o título da matéria sobre o prêmio máximo do cinema, (por mais que bufem os guerrilheiros), é: O Oscar Contra-Ataca. Dentre as informações descartáveis, ficamos sabendo que o filme de John Lee Hancock, baseado em livro de Michael Lewis, esteve entre os 3 mais assistidos de 2009. No âmbito das informações vitais, Walter Salles nos conta que se não fossem os festivais (Veneza, Toronto, etc.) o bom cinema estaria na prateleira e só veríamos bilheterias. Os festivais lançaram luz no ganhador 2010 e o público fez filas e mais filas para assistir “Um Sonho Possível”. Digam o que quiserem, mesmo com a “Indústria da Distribuição” a seu favor, esperança vende, seja ela embalada pela Disney ou pelo Joãozinho 30.

Sandra Bullock levou o Oscar de sua carreira por interpretar a senhora Tuohy, casada e mãe de dois filhos, que tira um menino das ruas e o coloca dentro de casa. Tida como a queridinha da América e rainha do cinema de baixa caloria, há uns atrás Sandra fez uma ponta no “Crash” como a fútil, envidraçada e quiçá endinheirada esposa de um promotor. Aqui ela é endinheirada, fútil quiçá, mas entra e sai da redoma com a facilidade que um passarinho pula de galho em galho. Ela encasquetou que daria uma nova vida ao adolescente negro vivido por Quinton Aaron e o roteiro trata dos obstáculos como manteiga semi derretida. A personagem que ela viveu em “Crash” não saía da blindagem, pois “Crash” é um duro ensaio sobre as diferenças.

“The Blind Side” é um filme que aposta na igualdade mais caridade remando contra um dia a dia denso, cuja única caridade é a do sujeito recebendo e colocando cédulas na roupa íntima e outros imitando para ratificar a igualdade. Lá ou cá, é tudo a mesma coisa.

Quarto filme de John Lee Hancock , que também escreveu o roteiro, dá pra ficar cismado se o autor do livro escreveu a história desse modo, se o cineasta se empenhou nessa traducão ou se a história aconteceu realmente assim. Seja como for, Quinton Aaron bateu bola com o papel que lhe deram, um papel difícil para uma situação difícil – a de ser resgatado de uma vida miserável e viver piano piano na casa da esforçada madame Tuohy. Jae Head, o irmão caçula, e seu rosto é um autêntico clichê, Kathy Bates, como a tutora de Quinton, mais os parâmetros pobreza e riqueza - sendo esta última a única solução, mais boa vontade e oportunidade misturados a esforços sem malogros e convivências sem conflitos, tudo num único pacote, arranjado com cara de filme publicitário e trilha sonora para ouvidos afinados.

Sandra fez bonito e, durante duas horas, o sonho é possível.

Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 19/03/2010
Reeditado em 11/12/2012
Código do texto: T2147715
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