A inquietude de O Segredo dos Seus Olhos

Breve texto dominical apenas recomendando um filme do qual não vou me atrever a grandes comentários. Já aprendi que quando a gente é leigo, a gente é leigo. Deixando comentários técnicos para quem entende, quero falar dos sentimentos que a obra exala.

O Segredos dos Seus Olhos, filme argentino que levou o Oscar de filme estrangeiro este ano, é imperdível. Justifica todos os bons comentários que circulam sobre ele, alguns até o apontando como o melhor filme dos últimos tempos.

O filme cumpre com tudo o que uma obra prima tem a fazer: diverte, emociona e, mais do que isso tudo, inquieta. Se fosse classificar em uma palavra este filme, pelo menos sobre o sentimento que me casou, seria essa: inquietude.

Inquietude por não saber bem como julgar os atos dos personagens, sejam eles heróis ou vilões. Na história de um caso de estupro em que não se fez justiça à vitima, tudo parece tão digno de punição e perdão, que é impossível tecer julgamentos definitivos. O certo e o errado parecem apenas uma redução, desconsiderando a complexidade do homem. O diretor, Juan José Campanella, consegue tirar do seu filme qualquer traço de maquiavelismo. Isso é o mais legal.

A trama de amor, o caso policial, a narrativa do herói, todos têm importância secundária diante da grande reflexão sobre o interior das personagens: o estuprador, Isidoro Gomes, o marido da vítima, Ricardo Morales, e Benjamin Espósito, oficial de justiça que, 30 anos depois, decide contar o caso em um livro. Resumindo, há tempos não via um filme de tamanha profundidade, sem ser chato ou cansativo em momento algum. Quem não viu, corra para ver.

Andrei Andrade
Enviado por Andrei Andrade em 12/04/2010
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