"Sempre ao seu lado" (Hachiko: A Dog's Story)

"Sempre ao seu lado" (Hachiko: A Dog's Story)

Essa fórmula do cão protagonista, se não tiver o balanço perfeito, se torna osso duro de roer.

O caso é que: Lasse Hallström dirige. Num universo paralelo e ausente de internet foram criadas delegacias especiais para artistas. Existe uma em cada esquina, conta somente com um funcionário, o cidadão chega lá com um papel rabiscado a lápis, consulta mais uma vez o que está escrito e por fim indaga para o funcionário: Lasse Hallström? Em 5 minutos engenhocas analógicas produzem uma ficha.

O cidadão examina, ainda titubeante.

1975 - En Kille och en tjej

1977 - ABBA: The Movie

1979 - Jag är med barn

1981 - Tuppen

1981 - Gyllene Tider - Parkliv

1983 - Två killar och en tjej

...

“Minha vida de cachorro”, (1985), nesse instante o cidadão sorri de contentamento. Reconheceu o artista. “Aprendiz de sonhador”, (1993), “Regras da Vida”, (1999), “Chocolate”(2000), “Chegadas e Partidas”(2001), etc.

Richard Gere e Joan Allen dançam conforme a música roteirizada por Stephen P. Lindsey . Serão os “pais” de Hachi, o cão que aparece misteriosamente na vida do professor universitário interpretado por Gere.

Hallström já havia dirigido Richard em 2006, na história verídica de um escritor que dizia se comunicar com Howard Hughes e engendrou um mirabolante “171” nos USA de 1970.

Aqui temos mais uma história verídica, ocorrida nos anos 20 no Japão e climatizada para o mundo dos sonhos americano, uma cidade pacata e asseada com coadjuvantes que funcionam como peças do jogo de xadrez. Há o peão, o bispo, a rainha... Jason Alexander (o melhor amigo do Seinfeld) como funcionário da ferrovia, Erick Avari, o homem do hot-dog, Cary-Hiroyuki Tagawa, o melhor amigo de Gere, etc. Com todas as peças no tabuleiro, sendo o rei o cão akita chamado Hachi, a sensibilidade de Hallström narra com a luz da simplicidade essa fábula dos tempos modernos.

Começa na estação de trem, com Gere se deparando com um filhote sem paradeiro. Começa como um relacionamento fadado ao sucesso do relacionar-se em qualquer instância. Ou seja, estamos fora do mundo vampirizante. Ou vampirizado, se preferir.

Hachi não é um cão mágico, Gere carrega um pesar, Joan Allen a princípio não quer saber de cachorro em casa, Sarah Roemer, a filha crescida e prestes a casar discorda da mãe, há que se pensar com minúcia como fazer o cotidiano de um núcleo familiar com cão não levar o espectador ao tedioso bocejo ou à doída lágrima.

A turma que faz cinema bem feito sabe como fazer. E o verídico do fato, ocorrido no extremo oriente quase um século atrás, reteve força suficiente para atravessar espaço/tempo e nos dizer a que veio. Pela segunda vez, já que essa versão é um remake do original japonês, de 1987, “Hachiko monogatari”.

Por um tempo Gere indaga que cão é esse. As respostas vem com a aurora, se vão com o poente e Hallström não abusa da visão subjetiva e em preto e branco do protagonista de quatro patas.

Hachi significa o número 8 em japonês, e é encarado por essa cultura, espiritualmente dizendo, como o número que representa o equilíbrio perfeito entre o céu e a terra. Os japoneses também consideram os

akitas como uma das raças mais antigas a estabelecer um convívio íntimo com o ser humano.

Depois de um tempo Gere deixa de indagar e assim como os dias se sucedem as estações idem, Hachi não corre atrás de uma bola, ele talvez venha a fazer isso para lhe agradar, sento tal gesto, no entanto, pura e simplesmente uma demonstração de amor. Esclarecendo, Hachi não se presta ao teatrinho do cachorro.

Não espere que uma turma dessas vá colocar a mão na massa se a história não tiver um quilate condizente, pois essa é a vida ou assim é a vida, as fábulas podem acontecer com pessoas simples, com notáveis desconhecidos, por assim dizer, mas vão se imortalizar através das mãos de que tem traquejo.

Apenas uma única vez e com todas as letras pertinentes, o roteiro exala que heróis são aqueles que nos dizem para não nos esquecermos de quem amamos.

Tipo de ensinamento que deve estar, chova ou faça sol, sempre ao seu lado.

Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 23/04/2010
Reeditado em 23/11/2012
Código do texto: T2214442
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.