“Dança com lobos” (Dances with Wolves)

“Dança com lobos” (Dances with Wolves)

O tenente John Dunbar foi para a “última fronteira”. Para ele, naquele momento de sua vida, o termo fazia todo sentido. Resta saber se hoje, na última fronteira, existirão seres com tanta dignidade como os sioux apresentados por Costner.

Costner dirige e interpreta John Dunbar.

Dança com lobos é seu nome sioux mas em 1990 ele ganhou o nome 7 Oscar na tribo da Sétima.

O filme abre com Kevin numa maca da Secessão prestes a ter a perna amputada.

Michael Blake, hoje, e até onde se sabe, além de escrever realiza trabalhos humanitários. Nascido em 1945, durante sua juventude redigiu o jornal da base aérea de Walker e logo após se formou em jornalismo pela Universidade do Novo México. Foi nos 80, porém, que ele resolveu nos humanizar um pouco e escreveu a novela em questão. Como todo escritor que se preze, fez a pesquisa como manda o figurino.

A cena dá a entender que o cirurgião estava exausto de tanto amputar e precisava de uma pausa. Foi, portanto, a exaustão do médico que poupou Kevin de uma existência na muleta.

Médicos são um capítulo à parte e sem controvérsias na Guerra da Secessão. De quebra, nesse estimulante período da História Gringa, circulou nos campos de batalha um calibre particular, capaz de quebrar ossos e tudo o mais.

Blake, portanto, sabia do que estava falando. Ou escrevendo, como queiram.

Embaixo da maca há uma pilha de botas, o médico foi tomar café e está pronta a deixa para o tenente praticar uma pequena insanidade e ganhar sua passagem para aragens mais auspiciosas. Lá, um oficial superior, num último gesto, um misto de grandiloqüência e demência, dobra um papelzinho para Kevin, mandando-o para a última fronteira.

Foi, portanto, a traquinagem de outro que selou o destino do tenente John Dunbar.

“Dança...” é um filme de ilhas muito bem construídas. A Ilha Primeira, de confederados versus nortistas tem pouca duração. Na Ilha Segunda, o tenente Dunbar vai para o isolamento das infinitas estrelas e do longínquo horizonte, quando ele conhece Meias Brancas (o lobo), e passa a escrever seu cotidiano num diário.

Kevin tem um cavalo que os intrusos não conseguem roubar, por mais que tentem. Suas desventuras numa tapera que ele chama de forte equivalem a soma de pequenos desenganos aliados a medo, estresse e coragem.

Tudo tem um sinal de destaque nessa obra, não porque exista um splash publicitário sobre falas, personagens, situações mas somente – o que não é pouca coisa – por conta desses elementos deterem um valor intrínseco de comunicação como só os bambas de literatura e roteiro sabem fazer.

O índio vivido por Graham Greene, na reservada descrição do tenente, é “quieto, observador, e dotado da curiosidade de quem quer estabelecer contato”.

Há também o superior de Kevin, afetado e com problemas na bexiga, o cocheiro porcalhão, a mulher branca que esqueceu a língua mãe, não são personagens felinianos, estão longe de ser, mas tem sua força expressiva bem estabelecida.

Mary McDonnell, que foi abduzida quando criança e passou a viver entre os sioux se torna a interprete entre Kevin e Greene. Kevin indaga se ele é o chefe. Ela diz que não, e explica que Greene é um homem sagrado.

Ora...quer saber qual o grau de adiantamento de uma sociedade? Certifique-se da existência de homens sagrados e veja como eles são tratados. Homens ou mulheres, bem entendido.

Tenente Dunbar escreve, observa, tem sustos noturnos, confessa imensa felicidade e estamos prestes a adentrar na Ilha Terceira, que vem quebrar sua imensa solidão – trata-se do convívio social e logo em seguida fraternal com os sioux. Será na Ilha Terceira que ele desenha a nota chave de todo aquele com problemas de subsistência. Ele e os sioux dividiram o mesmo problema – “somos um bando de homens tentando prever o futuro”.

No final, o confronto e o contraste entre o branco e o índio é de tal modo enfocado que toda e qualquer fé nos “casacas azuis” cai por terra face a nobreza dos novos irmãos de Kevin e seu esforço para não deixá-lo para trás. Casacas de outra cor estão aparecendo em demasia na TV, nos último dias, iguaizinhos aos apresentados na obra de Blake – sanguinários e intolerantes.

É de se pensar o que nos reserva na linha fronteiriça.

Medo e boa vontade dos guerreiros protagonistas são as tônicas deste épico, pois tanto um como outro estão expostos de modo quase didático, e por isso mesmo extremamente valiosos para o presente momento, transbordante de medo e quiçá órfão absoluto de boa vontade.

Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 18/05/2010
Reeditado em 11/11/2012
Código do texto: T2264238
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