“Sherlock Holmes” (Sherlock Holmes)

“Sherlock Holmes” (Sherlock Holmes)

Papagaiada.

Fico me perguntando por que toda vez que retratam a Inglaterra Vitoriana enchem o cenário com uma multidão de miseráveis...

Dizem que o sistema de Fundos de Pensão teve origem na mesma Bretanha em 1536. Ou seja, com uma iniciativa dessas e um salto de 350 anos, os miseráveis continuaram aos andrajos, e, para quem olha de fora, pitorescos.

Holmes de Guy Ritchie gosta de travar embates no meio deles.

O roteiro tem também aqueles estalos nos diálogos.

Irene Adler (de onde tiraram esse nome...com reticências e sem interrogação), uma paixão obscura do detetive, lhe indaga: quando foi que eu te magoei?

Ele responde desse modo: por ordem alfabética ou cronológica?

Com uma tonalidade que puxa para o cian da primeira à última cena, descontando umas e outras, e um começo desencorajador, Sherlock Holmes “reinventado” levou nosso amigo Sir Arthur Conan Doyle (e por que não seria nosso amigo?) a conjeturar, onde quer que ele esteja: criei um personagem ou criei boas histórias?

Seu público cativo dirá: ambos.

E seu personagem, que de tão vívido ganhou uma casa concreta, foi besuntado de outras formas por outros contadores de histórias, pelo mundo a fora, pelo tempo a fora, como se fosse uma espécie de auto (veículo), passível de novas pinturas e apto a trafegar em qualquer estrada que lhe propusessem. Com isso libertaram-no, eis o que ocorreu, do contrário passaria a eternidade ao lado dos Cães de Baskerville.

Por essa o oftalmologista Conan Doyle não contava.

Até nos trópicos o amigo de nosso amigo esteve, pelas mãos do carioca São Jô de Sampa, no impagável “Xangô de Baker Street”.

Robert Downey Jr. deu uma lapidada com entalhadeira nesse diamante dedutivo e Jude Law transformou Watson num misto disso e daquilo. Jude/Watson ainda é médico embora o geral de suas ações evidencie mais arrojo que o original. Elementar, meu caro, ele acompanha o amigo Holmes, (que afinal não deixa de ser nosso amigo) e por fim a dupla Downey/Jude faz uma excelente dupla ponta de faca.

O Cânone Sherlockiano atesta que o herói nasceu em 6 de Janeiro de 1854 e que seu criador “considerava o romance policial literatura de segunda classe”.

As gags, (termo impreciso) das situações rocambolescas do filme, despertam mais interesse pelos diálogos que estalam, como pinha na lareira, revelando a sintonia do médico e do multimídia Sherlock.

Hans Zimmer assina a trilha e Philippe Rousselot

a fotografia, dois itens que, se te derem desconforto durante a projeção, o caldo entorna.

O público sempre se encantou com o poder dedutivo de Holmes e mesmo aqui, pasteurizado como requeijão, ele não deixa de atestar que uma mente ativa vale mais que uma apagada. Downey Jr. dispensa adjetivos e roteiro sim, roteiro não, (Michael Robert Johnson, Anthony Peckham e Simon Kinberg), o ator aplica uma tonalidade certeira no Holmes da vez.

Outras notícias do Cânone Sherlockiano nos contam que Doyle, em seus primeiros anos na faculdade de medicina, por volta de1923, deu inicio ao processo de criação de seu personagem, inspirado no “notável” professor Bell: vigoroso, olhos penetrantes, exímio cirurgião com ponto forte na diagnose - de doenças, de homens e suas ocupações bem como aquilo que mais os define: o caráter.

Rachel McAdams, uma atriz que tem saltitado alegremente na soma dos acertos, faz a ladra Irene.

Guy Ritchie peitou bem a parada de se meter com um personagem cuja quenga no cangote é a eterna transfiguração, a tchurma dos efeitos especiais: The Visual Effects Company e etc. deve ter trabalhado dobrado na situação do estaleiro, quando Holmes enfrenta o gigante francês, a Londres reinventada pouco suspira por mais anseios gráficos e se você for passear por lá, o endereço correto é 221B Baker Street. Não tem erro.

Quanto à história, ora, a história é o que menos interessa nesse filme. Assisti-lo, porém, não deixa de ser uma boa oportunidade de entretenimento sem culpa. Pra que desperdiçá-la?

Ou como disse Sherlock sobre a polícia londrina: “eles nunca perdem a oportunidade de perder uma oportunidade”.

Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 27/05/2010
Reeditado em 09/11/2012
Código do texto: T2283252
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