DEIXA ELA ENTRAR

Um dia desses, foleando uma revista de 2009 deparei-me com uma foto que muito chamou minha atenção: Um garoto dormindo e uma menina olhando para ele, também deitada na mesma cama. Um semblante triste, olhos grandes e negros, e, algo mais do que a boca ensanguentada que despertou em mim algo que ainda não identifiquei, mas desconfio: Uma afinidade real.

Os meninos da foto são Oskar e Eli, ambos de 12 anos, na fria Estocolmo dos anos 80. Ambos vivem seus dramas pessoais. Ele, a agonia de ser atormentado pelos colegas da escola. Eli, é terrivelmente infeliz, como insinua a Oskar quando diz que tem mais ou menos 12 anos. O que quer dizer que esta com 12 anos há algum tempo; é uma vampira!

A descrição sem palavras do aflorar de um sentimento é a tacada de mestre do diretor. O filme tem cenas de horror. Algumas que assustam, é verdade, como quando Eli tem de se alimentar de sangue e faz movimentos horríveis e ruídos perturbadores, que pessoas mais sensíveis se sentirão muito desconfortáveis. É um contraste do que se vê dela em outros momentos.

Eli apresenta uma fragilidade não compatível com sua condição interior(o que da à ela uma conotação humana), cabelos sujos e roupas de menos para o frio sueco. Depois de se alimentar em uma das cenas mais orgânicas que se tem notícia em um filme do gênero, esconde o rostinho com as mãos e chora. Percebe-se então a maturidade que Eli adquiriu em sabe-se lá quanto tempo de existência: TEM CONSCIÊNCIA DO QUE VERDADEIRAMENTE É !

Os vampiros são em suma uma metáfora da monstruosidade dos homens e também do desejo de eternidade, mas aqui recebem um novo significado, algo de transcendente: O amor entre o homem e a mulher, com toda a sua bestialidade, e não sem ela. Amor de verdade, talvez por serem "apenas" crianças. Oskar quando percebe(ou desconfia) da real essência de Eli, pergunta o imperguntável:

-Você é uma vampira?

A resposta é de uma maturidade sem precedentes:

-Você gostaria de mim se eu fosse?

Somente uma criança agiria assim, sem ter de recorrer a subterfúgios como um eufemismo barato, mas com a sinceridade que lhe é própria, e, que deveria ser o fundamento de qualquer relação...

o link para o trailer:

http://www.youtube.com/watch?v=ICp4g9p_rgo

Fabricio Herzog
Enviado por Fabricio Herzog em 08/08/2010
Reeditado em 08/08/2010
Código do texto: T2425587