O homem nasce bom; a sociedade o corrompe, dizia o filósofo Rousseau.

Claro,uma criança é uma folha em branco que será preenchida pelas suas experiências e aprendizados no decorrer da vida,porém,a genética não deve ser menosprezada.
Fui atacada por essas considerações filosóficas logo depois de assistir o magnífico filme italiano Vincere,do excelente cineasta Marco Bellocchio,o homem que percebeu   - não com belos olhos,mas,com olhos voltados para a realidade – o  nascimento  de um ditador.
O filme trata dos primeiros anos de Mussolini,um governante que ascendeu de uma forma inexplicável entre os italianos,embora fosse um ser humano cruel e um político equivocado,cujos destemperos colaboraram com o sofrimento e derrota do seu país na Segunda Guerra Mundial.
Que se examinem os homens,aconselha Bellocchio,porque não se pode separar o homem do ditador em que ele se torna.Sábio conselho!
O filme mostra Mussolini visto por Ida Dasler,uma mulher apaixonada que para segui-lo esquece tudo –família,valores,crenças – e financia o jornal Il Poppolo d’Italia,plataforma para o lançamento de Mussolini como líder político.
Quando ele se alista para lutar na 1ª Guerra e volta ferido ela vai visitá-lo não hospital e descobre que ele já era casado com Rachelle Guidi e tinha filhos;ele a enxota do hospital como um cachorro,embora estivesse grávida de Benito Albino Mussolini,filho do ditador.
Sem dinheiro,desiludida no seu amor e ferida de morte ao descobrir que o homem que amava e admirava era,na verdade um crápula vendido,Ida começou sua campanha pública pelo reconhecimento do seu filho.Foi presa e colocada num manicômio até morrer de hemorragia cerebral anos depois.
Nas poucas visitas do poder   à moça,percebemos o comportamento dos poderosos e dos seus asseclas,as mentiras montadas, a supressão de documentos importantes,a chantagem  insidiosa aos parentes e amigos da mulher,a degradação pública patrocinada por uma imprensa leniente, a morte de um amor  causador da perdição da pessoa mais fraca.
Seu filho,também,foi encarcerado num hospital e,depois de tomar  à  força muitas drogas  poderosas,morreu aos 26 anos num manicômio.
Essas pessoas foram banidas da biografia do ditador e a certidão de casamento de Ida nunca foi encontrada.
O que o filme se propõe a mostrar é que sempre existe um homem atrás do mito e que ambos devem ser  estudados , pois um, nunca poderá separar-se do outro.Benito recebeu sem nenhum escrúpulo o amor e o patrimônio de Ida;Mussolini soube como alijá-la da sua vida quando isto lhe foi conveniente e essa relação poderia prejudicar os seus interesses e sua incansável luta pelo poder.
O indivíduo massacrado pelo sistema não é um fato novo.
O filme vem bem a propósito no momento em que a direita fascista está estudando uma reabilitação da memória de Mussolini.E que a presença do bufão  Berlusconi no  poder já se estende há três anos,apesar dos escândalos sexuais e financeiros que envolvem seu nome.
Bellocchio,na sabedoria dos seus setenta anos,quer  provar que o cinema tem um papel relevante na sociedade e na construção da história de um pais.E que cabe aos artistas –escritores,músicos,cineastas – registrarem sem piedade os erros de um sistema.
A metamorfose de Mussolini , -de agitador socialista que queria derrubar o rei e assassinar o papa - em ideólogo do fascismo,sua ascensão ao posto de ditador e aliado da Alemanha Nazista, nos deixa pasmos; fica  difícil de entender como esse homem tornou-se ídolo dos italianos.
Ma,la nave va...
Mas,que vá sempre fiscalizada pelos  artistas,escritores e cineastas.
Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 06/10/2010
Código do texto: T2540553
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