Fale com ela.

Uma história de amores. Amores encerrados, mas não resolvidos. Amores iniciados e truncados. Amores que se prenunciam. E também uma grande amizade. Uma história de solidão e incomunicabilidade.

O amor é a coisa mais triste do mundo quando acaba, diz um dos protagonistas. E o fio condutor do filme é uma tristeza infinita. Talvez porque essa seja a realidade: todo amor acaba. E quando acaba é tão triste...

Melhor roteiro original: um Oscar justo para este filme de Almodóvar. Para mim é o que há de melhor no filme se é que é possível determinar o que há de melhor nesse filme tão terno. O que é uma recompensa para quem escreve e vê tantas idiotices transformadas em filmes.

O filme é cheio de coincidências, de encontros ao acaso que acabam se tornando importantes e parte fundamental da vida dos quatro protagonistas dessa que é uma história de amores. Javier Câmara é Benigno, o enfermeiro que cuida de Alícia (Leonor Watling). Começa com ele na platéia de um teatro, ao lado de  
Marco, o argentino Darío Grandinetti, enquanto no palco duas mulheres vestidas com camisolas brancas dançam de olhos fechados. O sofrimento delas é perceptível e na platéia, Marco chora e é observado por Benigno. O encontro dos dois se dá algum tempo depois, na Clínica onde Benigno trabalha: a mulher com quem Marco se envolveu romanticamente, a toureira Lydia (Rosario Flores) sofreu um acidente e assim como Alicia, está em coma. Novamente mulheres em roupas de dormir e se o sofrimento delas não é perceptível, o daqueles que as amam é.

O filme é entrecortado por lembranças. Almodávar, além de flashbacks usa também a meta linguagem. O filme dentro do filme. Ou o teatro dentro do filme.  Começo e fim, coreografia da alemã Pina Bausch que em sua obra combina o balé clássico com elementos dramáticos do teatro. Começo e fim, Marco está na platéia e chora;alguém lhe perguntou um dia: por que chora? Choro porque vejo coisas bonitas e gostaria de compartilhar com ela. Mas a última cena devolve uma esperança ao coração. Dos protagonistas. Do espectador. Porque nós precisamos dessa esperança – de que tudo um dia, vai acabar bem. Mesmo que seja só esperança.

Fale com ela, diz Benigno que há quatro anos cuida de Alícia inerte em uma cama e fala constantemente com ela. Mas Marco não consegue, nem falar, nem tocar em Lydia. Eu compreendo bem essa situação. Por mais de cem dias minha irmã esteve assim em uma cama de hospital: e eu não conseguia tocar-lhe nem falar com ela. Essa impossibilidade de comunicação que permeia a vida, permeia também todo filme. Há sempre um que fala e um que escuta. Mas só os dois que se fazem amigos conseguem realmente conversar.
 
O amor é o motor do filme. Benigno ama Alícia, Marco ama Angela e depois ama Lydia e depois...bem também não vou contar tudo, é preciso deixar algumas surpresas para o espectador. Alicia não ama ninguém e Lydia se divide entre Marco e o toureiro. E ainda há outros amores menores para a trama, mas não menos importantes para quem o sente. Até parece o célebre poema de Carlos Drummond de Andrade ....

Geraldine Chaplin faz a professora de dança de Alycia. CaetanoVeloso canta Cucurrucucu Paloma.Em outra cena, ouve-se Elis Regina cantando Por toda a minha vida. O que mais eu posso falar desse filme que ganhou o Globo de Ouro de melhor filme em Língua Estrangeira? Só que é atemporal, portanto não envelheceu e poderá ser visto sempre com o maior deleite. (01/11/2010)