“O homem encarnado no mundo natural não pode esquivar-se da ação um instante sequer: Sua própria existência em baixo é ação, pois o universo inteiro é um ato de Deus, e o simples fato de o universo existir já consiste no movimento de Deus.”
                                                              Shri Aurobindo- Comentários à Bhagavad Guita

O ESPÍRITO DE LUTA

O oposto da coragem é a covardia. O homem que não sabe lutar pelo que quer, não tem coragem de defender os seus valores, não se compromete com nada e não se apresenta quando dele se necessita está em franca oposição com o seu Guerreiro interior.
É da natureza humana o espírito de luta. Ele está na conformação original do nosso cérebro a reação típica de ataque e defesa que nos impulsiona toda vez que sentimos que algum perigo nos ameaça. Segundo Goleman, essa é uma função que já está presente na camada reptiliana do nosso cérebro, a primeira estrutura cerebral desenvolvida pela nossa espécie.
Há várias formas de luta. Bater, agredir, defender-se, são a-ções proativas que se originam no nosso cérebro límbico.
Da mesma forma, negociar, compreender, perdoar, tolerar, são outras formas de luta que são geradas na nossa amígdala cortical. As reações de luta são respostas primárias, instintivas, que não passam pela avaliação crítica da mente consciente, enquanto que as segundas são opções organizadas, que a mente consciente emite após criteriosa avaliação.
Ambas são estratégias válidas de ação e usar uma ou outra depende do momento e da situação que estamos vivenciando. Não tem sentido tentar argumentar nem negociar com um animal selvagem que nos ataca, ou mesmo com uma pessoa que esteja fora de seu juízo normal, ou que nos agride fisicamente.
De outra forma, sair dando pancada em todas as pessoas que por algum motivo nos desagradam revela a presença de uma inteligência emocional bem restrita. Como bem observa o filósofo Aristóteles, há momentos em que é preciso brigar, mas tem que ser com a pessoa certa, no momento certo, no lugar certo e pela razão certa.
Winston Churchill, o famoso primeiro ministro inglês que governou a Inglaterra durante a Segunda Guerra mundial dizia que o grande erro dos aliados foi não ter enfrentado Hitler quando ele começou a botar as mangas de fora. Uma guerra na época em que o ditador alemão começou a invadir outros países, a Techoslováquia e a Áustria, por exemplo, seria mais fácil de ser vencida naquele momento e não teria custado tantas vidas e recursos como custou um ano mais tarde, na opinião dele.
Da outra forma, o maior de todos os mestres que já veio ao mundo nos aconselhou que não resistíssemos ao mal. Quando formos feridos na face direita ofereçamos também à esquerda, disse ele. Gandhi aceitou esse conselho e conseguiu a independência da Índia sem disparar um único tiro. A cada agressão dos imperialistas ingleses ele respondia com atos de desobediência civil, mas sempre sem recurso à violência. Quem estava certo? Churchill ou Gandhi? Os dois estavam certos. Só a ocasião é que nos pode dizer quando devemos lutar com as ferramentas da paz ou as armas da guerra.
A nossa vida nos coloca todos os dias em situações que nos incita á luta. Por isso precisamos saber trabalhar com o nosso espírito guerreiro. Não podemos deixar que ele tome conta da nossa personalidade, porque senão nos tornaremos gladiadores natos ou verdadeiros hooligans. Por outro lado, não podemos ser totalmente compassivos e tolerantes a ponto de prejudicarmos os nossos resultados pela recusa em não lutar fisicamente. Isso quer dizer que nem sempre poderemos oferecer o outro lado da face.
O Guerreiro deve ser chamado naqueles momentos em que não se pode contemporizar nem fugir. A recusa em lutar, em fazer valer as nossas razões pode nos conduzir a perdas irreparáveis. É nesses momentos que o nosso espírito de luta precisa se manifestar com toda sua força.
Mas não só nesses momentos. O Guerreiro nos serve tam-bém em outras diferentes situações, em que se precisa de um líder, de alguém que assuma a responsabilidade, que se apresente para guiar o grupo. Por isso o Caminho do Guerreiro se expressa fundamentalmente pela capacidade de Presença, firme e constante, sem omissão nem constrangimentos.
E assim se justifica que a sua principal característica seja mostrar-se e optar por estar sempre presente. Essa, aliás, é a principal característica do homem de luta, sinônimo de Líder Natural. Servir é a sua divisa. Isso significa nunca fugir da luta. De um modo ou de outro sempre combatendo o bom combate.
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Resenha extraída do livro "Códigos da Vida", no prelo para publicação.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 11/03/2011
Reeditado em 11/03/2011
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