A pequena miss sunshine - uma reflexão psicológica

O filme - grande espaço para busca interior através de uma exposição bem alegre sobre valores. De forma geral, uma alegria com o fantasma da melancolia envolvendo a gente numa rica reflexão sobre os modelos impostos pela zeitgeist do momento. Como gera sofrimento este estampado cultural de princesas estabelecidas através de comportamentos que tem préstimos, através da sociedade do espetáculo.

Embora seja um filme de humor, a mensagem não tem graça. O filme demonstra o impregnado desejo de todos de reconhecimento social, pautado em características e talentos desalinhados hierarquicamente, ou seja, competições injustas. Alguns valores em crise na alucinante viagem que termina numa descoberta sobre a vida.

O grande destaque do filme encontra-se na busca e na perda das ilusões - tão comuns na vida de uma criança. Realmente, os pequenos que vivem perto de nós, estão mais propensos a esse tipo de idealização e, cabe a nós, protegê-los de todo esse assédio. Junte a isso, a crença da transformação fácil que, batida pelo sofrimento e pela busca de um futuro melhor, coloca o adulto à prova de sua busca interior e algum sentimento de fracasso, o que sugere que o ser humano precisa, a todo tempo, resignificar sua condição no mundo.

A visibilidade social, através do vislumbre de alguma super vitória, vem tornando as pessoas compulsivas por algum tipo de espetáculo de diferença que, mesmo tornando-as bizarras, possa chamar atenção. Já vi isso em vídeos na internet. O filme desmitifica essa ilusão quando a correria de toda família esbarra no vazio existencial de cada membro. Todos saem diferentes da experiência ligada ao concurso de miss. Ser perdedor ou vencedor, como o pai da pequena Olive promulga, deixa de ser o estereotipo coerente para a vida.

Durante o filme, a vivência dos obstáculos aproxima as pessoas que antes não se viam e não se respeitavam. Os valores do trabalho em grupo aparecem o tempo todo. O lindo do filme é que a família passa a funcionar num processo participativo. Tornam-se uma equipe e passam a rever diversos aprendizados.

Os padrões de beleza, quase irreais e fantásticos, baseados em um apelo dramático, angustiante e desleal podem fazer com que alguns indivíduos priorizem demais o corpo. A busca incessante pela beleza tem causado sofrimento e desvalia, além de alimentar sentimentos de individualismo e, algumas vezes, pode comprometer a qualidade da auto-estima de crianças e adolescentes. Doenças como anorexia, vigorexia, bulimia, depressão e ansiedade estão ligadas aos valores exagerados desses modelos sociais.

A história comovente da pequena Olive mostra que, na sociedade atual, nossos sentimentos se contradizem o tempo todo com valores impregnados por alguns meios de comunicação que propagam competição, fama e parâmetros complicados e infundados de aceitação social. Geralmente, tudo condicionado ao consumismo, à falta de amor próprio e à falta de afeto entre os seres humanos.

O filme pode ser utilizado para debates sobre as condições emocionais das pessoas no mundo moderno. A afetividade na família, o amor ao próximo são valores importantes para convivência em grupo. É muito importante construirmos esses sentimentos na infância em conformidade com a valorização do outro, independente do espetáculo que cada um irá realizar. Para uma criança, brilhar nem sempre é saudável, é preciso antes de tudo que ela internalize que é amada e que sua idealização infundada também tenha limites.

Fábio Alvino
Enviado por Fábio Alvino em 19/05/2011
Reeditado em 21/05/2011
Código do texto: T2981134
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.