RESENHA, LARANJA MECÂNICA (O FILME)

CINEMA

A odisséia robótica: humanos dopados e a sociedade escandalizada

Os psicanalistas aplaudem o “Suco de Laranja” de Stanley Kubrick

Lailton Araújo e Rosimeiry Rocha

O filme Laranja Mecânica (título original: A Clockwork Orange - ING/1971 - 138 min), direção de Stanley Kubrick, justifica a inclusão do cinema nas maiores invenções contemporâneas e culturais. Kubrick com seu toque de mestre, passeia no universo de Sigmund Freud (austríaco e pai da psicanálise), e sua nave espacial, tem adaptações do genial best-seller de Anthony Burgess (Laranja Mecânica - romance - 1962). As cenas do filme superam os capítulos do livro. O personagem central da trama, Alex DeLarge (Malcolm McDowell) é um maníaco inteligente e social, lembrando qualquer jovem líder neonazista das modernas gangs de rua nas metrópoles européias. Abastecidas com a música de Beethoven (compositor alemão), as cenas iniciais do filme chocam os cinéfilos de carteirinha. As atrocidades cometidas por Alex e alguns amigos adolescentes ao invadirem a residência de Mr. Frank Alexander (Patrick Magee) e Mrs. Alexander (Adrienne Corri), colocam em discussão o limite entre a “odisséia robótica de Kubrick” e a “psicanálise de Freud”. O sexo animalesco, a heroína ou LSD contida no copo de leite e todos os ingredientes irracionais são mostrados com maestria em “Laranja Mecânica”, que poderia ser chamada de “1971 - Uma Odisséia no Inconsciente”. Alex é preso e em sua terapia e tentativa de recuperação social, a “dose” administrada, merece aplausos dos psicanalistas presentes nas salas de projeção de qualquer cinema brasileiro. O anti-herói (Alex arrependido e dopado) atrai a piedade de qualquer cristão, já que passou a sentir náuseas ao ver qualquer cena ou ato de violência praticado por outros simples mortais. Libertado, já não consegue defender-se como qualquer animal racional ou não, e passa a ser alvo das outras gangs (serão aquelas do ABC paulista?) e da vingança de Mr. Frank Alexander, marido que teve sua esposa estuprada na fatídica noite, no início da película “Laranjada”. A música de Beethoven (o ópio que despertava os verdadeiros instintos selvagens), causa vômitos em Alex. Stanley Kubrick (diretor das obras-primas: “Doutor Fantástico” e "2001 - Uma Odisséia no Espaço"), escreveu o roteiro, escolheu o elenco, produziu e dirigiu a "Laranja Espetacular”, na forma mais que perfeita da violência humana e que só alguns mestres da sétima arte conseguiram.