A Invenção de Hugo Cabret (Análise e Crítica)

O novo filme do consagradíssimo cineasta Martin Scorsese finalmente estreou no Brasil no último dia 17.02, quase três meses depois do seu lançamento oficial nos Estados Unidos. O longa, indicado nada menos que a onze óscares, incluindo melhor filme, diretor e roteiro adaptado (pois se trata de uma adaptação do romance “Hugo”, de Brian Selznick), conta a história deste personagem (Asa Butterfield), um garoto de 12 anos, órfão de mãe e posteriormente de pai, numa rápida mas precisa participação do ator Jude Law. Para não ser encaminhado a um orfanato, vai morar com o seu tio em uma estação de trem, e lá aprende o ofício da relojoaria. É neste lugar também que o garoto vive suas aventuras, principalmente fugindo do inspetor da estação, interpretado por Sacha Baron Cohen, responsável pela parte cômica da produção.

De imediato, é perceptível que o filme se propõe a discutir os paradoxos da vida. Embora cercado de gente por todo o lado, Hugo se mostra o tempo inteiro um jovem solitário, carente, triste, na expectativa de que as saudades sentidas pelos seus entes queridos não o façam sofrer durante o resto da vida. Por isso, para amenizar sua dor, passa boa parte do seu tempo buscando consertar o autômato deixado pelo seu pai, na tentativa de assim tê-lo sempre ao seu lado. Curiosamente, o que lhe falta é uma chave na forma de um coração, que dará corda a este grande boneco de metal.

À procura deste último elemento para então resolver seu enigma, o garoto conhece Isabelle (Chloe Moretz), com quem viverá grandes momentos, inclusive a descoberta da verdadeira amizade e dos primeiros passos do amor. A partir desse ponto, Scorsese deixa claro que “A Invenção de Hugo Cabret” não é um filme que contém apenas um protagonista, pois todos os personagens de alguma forma interagem para que o almejado final feliz aconteça. Pois, qual seria o propósito se não fosse pela comovente história de George Mélies (Ben Kingsley)? A importância deste personagem na trama é tão equipolente à de Hugo, uma vez que eles não (re)descobririam a si mesmos se não fossem pelas suas vidas "ocasionalmente" interligadas.

Aos poucos, e de forma muito sutil, a fita de aproximadamente 130 minutos vai ganhando ares metalingüísticos e passa a ser uma grande homenagem ao cinema. Afinal, Méliès foi um importante cineasta do início do século XX, o que torna a história ainda mais mágica, uma vez que mistura fantasia e realidade. Além disso, ficando somente no aspecto da ficção, não há como deixar de relacionar a produção a outro grande clássico, “Cinema Paradiso”, de Guiseppe Tornatore, obviamente cada um dentro das suas proporções. Como não pensar ao mesmo tempo na intensa amizade entre o Alfredo e o Totó da produção italiana e na relação entre Hugo e George?

A direção de Scorsese é primorosa, e a trilha sonora é um espetáculo à parte. Tais elementos somados a ótimas interpretações fizeram que algumas cenas sem falas, recurso muito utilizado no início da produção, dissessem muito mais que se fossem dialogadas. Entretanto, há alguns pontos não muito positivos, principalmente quanto a uma certa repetição temática de cenas, fato que deixa o filme um tanto cansativo em alguns momentos.

Outro ponto negativo está no inútil recurso do 3D, na forma como estamos habituados a lidar com a tecnologia. Embora também concorra a um Oscar em efeitos visuais, o diretor priorizou pelo transparecer e enfatizar as emoções dos personagens. Não que seja uma má ideia, funcionou. Porém merecemos mais, caso contrário qualquer novo drama será convertido no formato, o que, por conseqüência, acabará colocando-o no lugar-comum. Praticamente é o efeito da aproximidade da imagem que é trabalhado no longa, pois a profundidade e a interatividade com o espectador ficam muito aquém, quase que nulas.

Em suma, é um belo filme, que conta uma história emocionante, realmente digno de concorrer às premiações, mas que está longe de agradar a qualquer tipo de público. Para aqueles que gostam de um drama que trabalha conceitos como amizade, altruísmo, esperança, superação, realmente é um prato cheio. Se não, escolha outro filme para assistir no cinema. No meu caso, penso que “A Invenção de Hugo Cabret” seria perfeito para ver em casa, numa tarde chuvosa, debaixo de uma manta bem gostosa, tomando um saboroso chocolate quente. Acho que combina mais que com um balde de pipoca, refrigerante gelado grande e poltrona não reclinada.

Nota: 8,0.

Dan Niel
Enviado por Dan Niel em 22/02/2012
Reeditado em 26/05/2013
Código do texto: T3513018
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