“Sociedade dos Poetas Mortos” (Dead Poets Society)

“Sociedade dos Poetas Mortos” (Dead Poets Society)






O vigoroso Peter Weir prepara para o final dois itens que ...(reticências). Primeiro, a porrada que o dedo duro leva na cara.

(Até então um dos personagens de Weir metera uma bala na cabeça, mas a preparação que existe para esta cena é tamanha que no fundo você espera por ela).

Segundo, quando a molecada sobe nas carteiras, cada um deles entoando “Capitão, meu Capitão”. Há roteiros e filmes que guardam para o último minuto raros suspiros.

Robin Williams foi merecidamente indicado ao Oscar de Melhor Ator neste drama lançado em 1989. Ele faz o professor Keating, que na primeira aula leva a classe para ver as fotos de alunos da mesma instituição, meio século atrás. Weir dá um close nos semblantes das velhas fotos enquanto Robin Williams revela aos alunos que aqueles caras um dia tiveram sonhos e esperanças. E que, em 90 por cento dos casos desceu tudo pelo ralo, mas não se importe, o mais importante foi estar vivo, sonhando e esperançoso. Toda a didática deste pulsante professor está calcada nessas teclas.

Se hoje pode-se dizer (com certo receio...) que a fila andou e a realidade é outra, Tom Schulman escreveu esse roteiro focando a ação no final dos 50. Faturou na categoria de Melhor Roteiro Original.

Os anos 50 foram pródigos em suicídios e internações de jovens que queriam agir por conta própria no seio da tão sonhada classe média e ai daquele que tivesse um carrasco por perto, pois suas asas seriam cortadas sem piedade. Tipo de coisa que não acontece entre os pobres desde o início dos tempos. Ali, ou bem o cara vai ralar o tchan para sorver o pão sovado e é cada um por si, ou, se temos uma graninha e um pouco de poder, então pode-se infernizar a vida do protegido até que ela desabe ou vice versa.

O texto de Tom Schulman brinca com essa pegadinha do drama – a morte – (alguém sempre morre nos dramas) e de quebra usa uma ferramenta do establishment como a prova Kafkaniana da imbecilidade oficial. Tal ferramenta é o livro do PhD Pritchard que pretende mensurar – literalmente – o valor de uma poesia. A poesia é mensurada em cm2, dentro da página. Fala sério, a fineza dessa ironia não tem tamanho e o professor Keating orienta os alunos a rasgarem esse pedaço do livro.

Peter Weir nasceu na Austrália e lançou seu primeiro longa em 1975, “Piquenique na montanha misteriosa”. Os críticos não ficaram indiferentes. Anos mais tarde, mais maduro, ele recriou um fato verídico, “Gallipoli”, filme que dentre outras serviu de trampolim para o Mad Max Mel Gibson. Dono de um CV irretocável, pode-se adjetivar o trabalho desse cineasta de vários modos, exceto de “qualquer nota”.

Todo o aparente Banho-Maria de “Sociedade...”, temperado nas belas locações colegiais com árvores e gramados, potencializado pelo professor Keating e suas travessuras na arte da educação, tem em primeiro e último plano a questão do ser jovem e a possibilidade da descoberta do ser maior dentro de cada um. Isso, por si só, já é um feito e tanto.

Robert Sean Leonard, Ethan Hawke, Josh Charles, os protagonistas do aprendizado.

Neil (Robert Sean Leonard), o garoto que se mata porque seu pai vai tirá-lo de sua aspiração – os palcos, a fim de mandá-lo para uma escola militar, representa o estandarte de vidas sem fim, que mesmo sem o suicídio chegam aos estertores desfiando a dolorida ladainha de – puxa, tudo o que eu queria mesmo era ter sido...(reticências). Cabe o cosmo nesses três pontinhos.

Se hoje o drama de Schulman parece deslocado para o cotidiano 2012, no que tange aos parâmetros de 1959 aquilo foi uma realidade dura e crua para parte considerável do mundo ocidental.

Mais uma vez o cinema estapeia com pelica a doideira humana e mais uma vez exalta o papel do educador. Não seria de admirar que os viscerais da área tenham no fundo aplaudido de pé o professor Robin Williams.

Em entrevista posterior Ethan Hawke diz que o Keating era na verdade o próprio Peter Weir, o grande inspirador, e que de fato, eles eram jovens e impressionáveis.

A mensagem contida no Banho-Drama de Weir permanece atual, e em certas localidades do globo, imprescindível.



 
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 21/05/2012
Reeditado em 02/07/2021
Código do texto: T3679610
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