Branca de Neve e o Caçador (Crítica e Análise)

2012 é, sem dúvida, o ano da Branca de Neve. Além do recém-cancelado projeto da Disney, conferimos recentemente a releitura do clássico no açucarado (e divertidíssimo) “Espelho, Espelho Meu”. Além disso, os canais de televisão por assinatura aqui no Brasil transmitem a ótima “Once Upon A Time”, cujo cerne se alicerça na história dessa heroína, e “Grimm”, série baseada em vários contos dos dois irmãos imortalizadores da Branca de Neve, mas que na primeira temporada já mostrou que não veio para ficar por muito tempo.

E, como se não bastasse, estreia hoje nos cinemas tupiniquins “Branca de Neve e o Caçador”, com a promessa de ser uma das adaptações mais sombrias e sangrentas do texto escrito ainda nas primeiras décadas do século XIX. O intento é contrapor a versão infantilizada que a Walt Disney lançou nos anos 1930, através da qual se fixou no grande público a ideia de uma Branca de Neve romântica, ingênua e idealizada.

Dirigido por Rupert Sanders, o roteiro trabalha os aspectos mais obscuros que envolvem o conto original. Vivida pela estonteante Charlize Theron, Ravenna, a rainha má, rouba todas as cenas em que participa, mesmo ficando um pouco esquecida durante a segunda metade do longa. Em uma interpretação brilhante dessa talentosa atriz, percebe-se em cada olhar imóvel porém totalmente expressivo e ora gestos contidos ora exagerados que cada poro da sua pele emana vilania das mais cruéis. Aliás, esse efeito é o mesmo com a Rainha Má de Julia Roberts, em “Espelho, Espelho Meu”, tomando todas as cenas para si. Porém, a de Theron não busca a simpatia do público: por mais que sejam justificados os seus motivos, ela é perversa. Está em sua essência, e é o que lhe basta.

Um tanto inspirada em Xena e Mulher-Maravilha, a Branca de Neve de Kristen Stewart é praticamente uma amazona. Há no roteiro uma intenção de formação de par romântico, mas não funciona. Isso se dá porque a personagem se mostra tão independente, que coloca outras coisas em primeiro lugar, como a felicidade do reino do qual é a princesa. E, numa leitura mais clássica, é justamente nesse aspecto onde mora todo o seu (super)heroísmo.

Na qualidade de possível pretendente, o Caçador é encenado por Chris Hemsworth, que possui todas as características físicas para o personagem, desde o rosto rústico ao timbre baritonal, mas que não convence. O ator é bom em cenas de ação, sendo que em outros momentos lhe falta dramaticidade. Tão desconfortável como vivendo o herói da Marvel, mais me pareceu um Thor medieval do que um personagem mais original.

Já que não são formadas possibilidades de romance, batalhas e sangue tomam conta da fita. Em consonância com o clima proporcionado estão os cenários, principalmente a Floresta Negra, pela qual a protagonista precisa atravessar para manter-se viva. Uma trilha sonora pesada e uma luz cinzenta tomam conta de boa parte do filme para justamente lhe dar um ar de mistério e aventura. Com base na proposta, o humor, não tão marcante assim, é sagaz, inserido em um texto objetivo mas também poético em certos instantes. Os diálogos rápidos dão tensão a algumas tomadas, como na conversa entre Ravenna e o Caçador, em um provando que não se impõe ao ego orgulhoso do outro.

No mais, é um bom entretenimento, só que sem grandes surpresas. Embora alguns elementos sejam alterados, como o caso dos 8 anões, o desfecho não foge do previsto daquilo que o roteiro apresenta ao espectador. De alguma forma, as características dos contos de fada ainda estão lá – o maniqueísmo, a luta entre as duas protagonistas, a vitória do bem –, fato que também não poderia ser muito diferente, uma vez que a fábula original, transmitida oralmente na Alemanha até o século XVIII, centralizava-se em uma Branca de Neve muito mais à la Disney do que nesta.

No entanto, confesso que ainda me ficaram no ar perguntas: por que a escalação de Stewart para viver Branca de Neve? Será que não havia uma atriz realmente bonita para o Espelho não mentir na fatídica resposta de que existiria alguém mais bonita que Theron no reino...???

Nota 7,5.

Dan Niel
Enviado por Dan Niel em 01/06/2012
Reeditado em 26/05/2013
Código do texto: T3700024
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