O ABRIGO

Uma das grandes surpresas do Festival de Cannes de 2011, Take Shelter, é “O Abrigo”.

Como já disse anteriormente em outro post, não recomendo algum filme só por recomendar, só o faço, quando acho-o altamente relevante. O Abrigo é um filme acima da média em muitas questões. Com sua maneira meia lenta de contar a história, chega a ser assustador. Em certo momento, lá pelo meio, tive que fazer uma parada para o café – desculpe, era medo mesmo. O filme tem horas que sufoca, na sua inteireza de mostrar o que acontece com o protagonista principal. O ótimo, e oscarizável, Michael Shannon, interpreta Curtis, um bom pai, bom trabalhador, bom marido, filho, amigo. Enfim, o cara era tão bom, que até o gerente do banco era seu amigo e o aconselha a pensar melhor num certo negócio arriscado. Tai o mote inicial, em mostrar que o cara não era anormal, não era doido, não era mau com ninguém. Casado com Sam, a ótima Jéssica Chastain, outra oscarizável, após esse filme brilhante. Curtis, aparentemente do nada, começa a ter visões apocalípticas sobre uma mega tempestade que estava pra vir. Ele passou a ouvir trovões em dias de céu claro, sem nuvens, pássaros fugindo da tempestade, a ver e a sentir a chuva que descia com gotas amareladas, como de óleo diesel. A principio ele tenta esconder o fato de todo mundo, pois a certo momento do filme descobrimos que ele tem uma mãe que tem esquizofrenia e está internada em uma casa de recuperação. A mãe dele, quando se encontram, mostra ser uma das pessoas mais lúcidas do filme, o que é digno de nota. Curtis vai alucinando e alucinando todo mundo ao redor. O filme tem a classificação de um drama, mas vai tornando ares de profundo pavor e terror, pois isso poderia acontecer mesmo com algum familiar nosso, ou pior, conosco.

E é isso que mais dá medo. O cara passou meio filme escondendo que está alucinando, e a outra metade foi alucinando os que estavam ao seu redor. No filme temos cenas memoráveis, como a excelente cena, quando estão todos comendo num salão, ali encontrando-se toda as duas famílias e amigos e a comunidade e o cara dá surto. Outra cena memorável e assustadora, entre tantas -preste atenção já na cena inicial do filme -é quando ele está dentro do tal silo, enterrado debaixo do chão, trancados, no escuro, ele e a esposa e a filhinha pequena e recusa-se a abrir o cadeado e a esposa começa a derramar lágrimas, passando por nosso pensamento que o cara é doido mesmo e vai matar a esposa e a filha, e ai... e ai eu não conto, pois isso já é finalzinho de filme, mas que é arrepiante é. A esposa vai pedindo bem baixinho, para por favor abrir a porta...

Até o fim, fica a duvida o cara é doido ou não? Vai haver uma tempestade ou não? O filme é intimista e passamos o filme todo com Curtis que não nos larga. Nós, espectadores somos como uma sombra, olhando tudo o que ele faz. Curtis é um cara lúcido, racional, até que começa a alucinar e ai nos causa estranheza, pois não parece haver motivo pra isso. Ou ele está enlouquecendo, ou a tal tempestade vai acontecer mesmo, de maneira apocalíptica e realmente a destruição será sem precedentes.

Temos em certo momento um presentimento que a mãe dele e ele são profetas, vendo visões e avisando os outros ao redor, do fim do mundo. Ele e a mãe são muito lúcidos e ver um cara como o Curtis gritando de medo, nos causa pavor, o medo dele é o mais profundo medo nosso.

O Abrigo é um baita dum filme protagonizado por um ator espetacular, que dá o tom certo ao filme. Eu assisti o filme e fui dormir em seguida. E quem disse que deu. Eu sou cristão e sei que a Bíblia nos diz que coisas pavorosas estão para ocorrer nesse mundo. O Abrigo só vem assinar em baixo o que já é nosso imaginário interior. O que mais me dá medo nesse filme, é que de vez em quando eu tenho uns presssentimentos, sabe? Tem dias que acordo com um pressentimento tão ruim, que tenho que orar, antes de qualquer coisa. Há vezes que esse sentimento me persegue a semana toda. A impressão que tenho e que sei que outros têm, é que parece pairar sobre nossas cabeças algo ruim, para em breve acontecer. O filme trás esse medo à tona, essa impressão patente, de porque ainda não deu uma guerra civil no Brasil? Ou porque um maremoto gigantesco ainda não varreu nossas praias? Ou algo inimaginável ainda não aconteceu?

Assusta, alerta, mostra, denuncia, profetiza. Cara, é um filmaço. A esposa do cara, mesmo quando o pau ta quebrando, ainda está ali, próxima, dando uma força. Numa cena ela dá um tapa na cara do coitado que também não sabe o que está acontecendo com ele, porquê ele está tendo esses sonhos e visões, nem ele sabe, e a esposa lhe dá um tapa e o cara fica no meio da cozinha, de cabeça baixa, quebrado, sem ação, sozinho e a cena não vai embora, a gente fica torcendo para o diretor mudar, por favor, e o cara nos tortura com aquilo. É degradante, é fantástico, é sublime.

Maluco, tô pra ver coisa melhor do que isso esse ano. Prometheus ainda não assisti, o Batman ainda não estreou, nem sei o que pensar do Batman, Homem- Aranha, sei lá. Um grande filme que vi esse ano foi Coriolanus e agora esse magistral e aterrorizante O Abrigo. Imperdível.

O diretor é o Jeff Nichols, guarda esse nome ai.

Esse, mas sem duvidas, eu recomendo.

Paulo Sergio Larios

pslarios
Enviado por pslarios em 26/06/2012
Reeditado em 26/06/2012
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