SITUAÇÕES EMBLEMÁTICAS E CONFLITUOSAS PRESENTES NO FILME PRIMO BASÍLIO DE DANIEL FILHO

PRIMO Basílio. Direção e produção: Daniel Filho. São Paulo: Globo Filmes. 1 DVD (1 h e 40 min.) Brasil:2007.

O presente trabalho tem como finalidade discutir alguns emblemas e conflitos presente no filme Primo Basílio, filme este adaptado por Daniel Filho a partir do romance O primo Basílio de Eça de Queirós. Mas antes de partir para uma análise acerca dos pontos relevantes do filme, primeiramente iremos descrever alguns traços biográficos do diretor.

João Carlos Daniel, conhecido como Daniel Filho, nasceu em 30 de setembro de 1937 na cidade do Rio de Janeiro. Daniel, filho único, começou a ter curiosidade acerca do mundo ficcional a partir do contato com a arte circense. O circo de seu pai foi à porta de entrada para o seu sucesso intelectual e profissional. O diretor em questão já tinha feito várias peças teatrais quando foi convidado para trabalhar na TV Tupi no Rio de Janeiro. Daí em diante sua carreira profissional começou a andar por “passos largos”, principalmente no que se refere ao cinema, pois ele dirigiu grandes produções do cinema nacional brasileiro, como por exemplo, o filme de discussão deste trabalho (Primo Basílio, 2007), a comédia Se eu fosse você (2006), a qual tornou necessária uma nova etapa, Se eu fosse você 2 (2008), Tempos de Paz (2009), Chico Xavier (2010).*

Agora partindo para uma breve sinopse do filme Primo Basílio, ver-se que a trama inicia com um casal feliz, Luísa e o engenheiro Jorge, na grande São Paulo, no ano de 1958. No entanto, logo de início, Jorge faz uma viagem para participar da construção de Brasília. Luísa reencontra o seu primo Basílio, com o qual teve um romance na adolescência, e é a partir deste reencontro que a trama ganha fôlego. Luísa a esposa "dedicada" passa a ter um caso extraconjugal com Basílio.

Juliana (empregada de Luísa) descobre o romance proibido da patroa, e passa a chantageá-la, atormentando-a. Deste modo, tendo em posse as cartas de amor que os primos trocaram, Juliana passa a tirar proveito da situação, passando de empregada a “patroa”, e Luísa passando de patroa a empregada do seu próprio lar, ou seja, Juliana passa a ter um quarto melhor, roupas e momentos de entretenimento em frente à TV, enquanto isso, Luísa passa a fazer o serviço doméstico em troca do silêncio de Juliana. Contudo, com a ajuda de sua amiga Leonor, Luísa procura solucionar o seu problema. Tenta encontrar as cartas, mas não as consegue, busca várias maneiras para conseguir a alta quantia exigida por Juliana pela devolução das cartas, mais é em vão.

Enquanto a jovem Luísa passa por tanta provação, Basílio não se mostra preocupado com a situação, assim, a aflição e o desespero tornam-se propriedades presentes somente em Luísa. Para se sentir aliviada, Luísa procura seu amigo Sebastião e conta toda à situação. Este faz com que Juliana devolvesse as cartas, e após isto, a empregada teve a sua vida ceifada com um atropelamento planejado pelo próprio Sebastião. Porém, a morte de Juliana acabou deixando a jovem Luisa perturbada. E para aumentar o sofrimento da jovem, Jorge acaba tendo posse de uma carta de Basílio a qual comprovava a infidelidade de sua esposa, procura Luisa e mostra-a. com isso, a jovem entra em desespero e acaba tendo um fim trágico.

O filme se passa na cidade de São Paulo no ano de 1958. Nesta narrativa estão presentes questões polêmicas as quais necessitam de uma boa discussão. Questões de infidelidade, questões amorosas, injustiças sociais, luxúria, chantagens, a posição da mulher na sociedade do século XX, etc..

Imbuídos pela trama, percebemos que o termo “culpa” pode ser analisado através de algumas questões polêmicas presente no filme. Percebe-se, por exemplo, que uma relação conjugal fora de um casamento pode desencadear uma série de conflitos e sentimentos de culpa. Podemos perceber isso no decorrer do filme principalmente em relação à jovem Luísa.

Luísa a partir de leituras romanescas passou a viver em um mundo fictício, a realidade para ela, era vista como um “espelho” de suas leituras, assim ela deixa claro a sua imaturidade acerca da vida. O caso amoroso de Luísa fora do casamento demarca a sua inocência, ou seja, ela não consegue lidar com a situação, assim o sentimento de culpa passa a fazer com que a jovem entrasse em crise com o seu próprio “eu”.

A questão da imaturidade abordado no filme não está presente somente no psicológico de Luísa, percebe-se que a empregada Juliana também a demonstrava, só que esta demonstração está quase implícita na trama. Digo imaturidade de Juliana no sentido de tirar proveito da situação da infidelidade de Luísa, ou seja, a sua preocupação estava mais voltada para o presente, ela não tinha a mínima noção do que realmente aquilo (chantagem) poderia desencadeá-lo. Assim, percebe-se que Juliana não controlava o seu próprio ego, pois passou a agir sem pensar nas consequências de seus atos.

O filme aborda as mulheres como seres pecadoras que precisavam ser punidas por seus atos. Já em relação ao homem, a trama coloca como seres dominantes impuníveis. Como podemos perceber nos personagens Basílio, Sebastião e Jorge. Basílio pode ser visto como o desencadeador dos conflitos, nele está presente à falta de humanidade, até mesmo em momentos frágeis de um ser humano, pois ele não se mostrou preocupado com o sofrimento de Luísa. E até mesmo em relação à morte da jovem, Basílio se mostrou sarcástico, como podemos perceber na fala do personagem: “É... Uma esposinha. Mas tinha potencial. Isso tinha. Tadinha morreu. É... Mas antes ela do que eu”.

Como explicitamos anteriormente, o homem ficou isento de punição na trama, isto esta presente em vários momentos do filme. A exemplo, a morte de Juliana, fruto de um ato criminoso de um homem (Sebastião), ato esse que ficou imune de punição.

Jorge é outro personagem que fica impune, pois teve sua participação na morte de Luísa, mesmo que de forma indireta. Ele mesmo vendo a fragilidade de sua esposa mostrou-lhe a carta de Basílio. Isto fez com que a vida da personagem fosse abolida mais depressa, pois o sentimento de culpa acabou destruindo-a.

Por conseguinte, mesmo que a narrativa do filme ocorra no século XX, ele nos faz refletir sobre a condição da mulher do século XIX: a sua submissão ao sexo masculino; a vida correta e fiel imposta pela sociedade masculina; a sua desvantagem na estrutura social; a punição de seus atos. Além disso, o filme nos faz pensar sobre algumas questões polêmicas que fizeram e fazem parte da realidade humana desde os seus primórdios, como por exemplo: a liberdade do ser humano, as consequências de um ato, o poder de uma culpa, a superioridade masculina etc.. Enfim, é um filme que mexe com as nossas emoções.

*Biografia disponível em: http://www.netsaber.com.br/biografias/ver_biografia_c_4409.html

Rodrigo Reis Carvalho
Enviado por Rodrigo Reis Carvalho em 24/07/2012
Reeditado em 09/09/2012
Código do texto: T3795338
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