Mirren é a própria Rainha

“Ela nos convence de que a Rainha Elizabeth II é exatamente assim”. É dessa forma que o escritor Luis Fernando Veríssimo define a atuação de Helen Mirren no filme A Rainha. Eu vou mais adiante. Ela nos convence de que ela é a própria Rainha Elizabeth. Oscar merecido. Pela expressão, pela postura, pelo tom de voz, pelo olhar, seja de compaixão por um cervo caçado por seu marido e seus netos, seja pela profunda angústia e perplexidade diante da descoberta tardia do mito Diana Spencer, após a sua morte.

O filme que deu o Oscar de melhor atriz a Mirren nos conta uma história mais do que conhecida. O trágico acidente que matou a ex-princesa de Gales, Diana Spencer, e os momentos que antecederam ao seu funeral. Todo aquele ti-ti-ti familiar e político foi exaustivamente explorado pela imprensa, foi tema de longos debates, foi relatado em livros. Elizabeth II decide não se pronunciar e muito menos envolver a família real, mas ela mesma não tem noção do que Diana representa para os ingleses e para o mundo. Vai descobrindo isso aos poucos, acompanhando a reação do povo pela TV e, alertada pelo recém-eleito Primeiro-Ministro Tony Blair, ela volta atrás, sabendo que sua popularidade está em risco.

A direção delicada de Stephen Frears e a atuação de Mirren acabam por nos mostrar uma Soberana que pode e é capaz de ter problemas pessoais e existenciais. Ela não foi educada para demonstrar sentimentos, mas sim, para ocupar seu papel, sem nunca imaginar que sua posição, normalmente adorada pelo povo inglês, de repente pudesse ser abalada por um mito como Diana. Para Elizabeth, até antão nunca havia sido necessário ser política para manter essa soberania.

Por outro lado desse conflito está o Primeiro Ministro, Tony Blair, jovem socialista que acaba de chegar ao governo. Muito bem interpretado por Michael Shenn, ele é o contraponto de Elizabeth, na preocupação em atender aos anseios do povo ´na hora da dor´. Aliás, a seqüência do primeiro encontro de Blair com a Rainha é memorável. O protocolo a ser seguido e a ´autorização´ que ela deve dar para que o Primeiro Ministro governe o país, com esses dois grandes atores em cena, é de fazer rir.

A Rainha pode até parecer um tanto dèjavu, mas Elizabeth daria um precioso estudo de caso numa psicanálise, por exemplo. Está aí uma boa discussão sobre a monarquia, que ainda sobrevive em alguns países. E um pouco de história nunca faz mal, principalmente no cinema, se for dirigido ao mesmo tempo com a precisão e a suavidade que este tema exige.

Giovana Damaceno
Enviado por Giovana Damaceno em 21/03/2007
Código do texto: T421098
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