Homem de Ferro 3 (Análise e Crítica)

Nas redes sociais e em sites sobre cinema e quadrinhos, não se falará sobre outra coisa neste final de semana: a estreia do terceiro capítulo da franquia Homem de Ferro. Entretanto, o teor dos comentários não é a qualidade da produção e nem do roteiro. Muito distante disso, o filme está sendo alvo de críticas ferrenhas, principalmente dos fãs das histórias em quadrinhos. Depois da catarse de “Os Vingadores” (2012), parece que a chamada Fase 2 da Marvel começou dividindo opiniões e quebrando a unanimidade até então adquirida.

Saindo Jon Fraveau dos postos de roteirista e diretor, Shane Black os assumiu sem conseguir deixar um diferencial expressivo. Depois dos excessos de “Homem de Ferro 2” (2010), a Marvel decidiu investir em roteiros que evidenciassem o aspecto mais humano de seus heróis, o que ficou muito claro em “Capitão América – O Primeiro Vingador” (2011) e ainda mais em “Os Vingadores”. Nessas duas produções, souberam dosar a carga dramática e individual dos personagens com boas sequências de ação e lutas, além de manterem um ritmo linear na narrativa.

Seguindo essa perspectiva, “Homem de Ferro 3” está focado na figura de Tony Stark (Robert Downey Jr.) e não na de seu alter ego. No longa, que se situa pós os acontecimentos em Nova Iork, o empresário bilionário passa por um tremendo inferno astral, quando vê seu reino e sua vida pessoal virados de cabeça para baixo com a chegada de um novo inimigo, o terrorista Mandarim (Ben Kingsley), disposto a ir às últimas consequências para destruir o herói. Depois de ver feridos o seu guarda-costas e amigo Happy Hogan (Jon Fraveau) e também sua namorada Pepper Potts (Gwyneth Paltrow), Stark jura vingança e morte a seu novo rival.

Diferente de todos os outros filmes produzidos pelos estúdios da editora, o maior pecado deste é o seu roteiro, que é cheio de verdadeiras mancadas e furos grotescos: como Stark dá o seu endereço de casa e continua lá ainda com a Potts, por exemplo? Como a armadura do Patriota de Ferro/Rhodes (Don Cheadle) consegue ser reaproveitada depois de manipulada pela IMA? Por que Hogan, durante uma forte explosão, é o único sobrevivente, mesmo no raio em que outras pessoas que também estavam tenham sido totalmente pulverizadas da face da Terra? Para o chefe de um grupo de super-heróis, por que Tony se mostra tão amador e um 007 de quinta categoria? São situações totalmente desconexas com a realidade até agora trazida para as telas.

Embora seja centrado na figura do homem e não na do herói, existe muita informação que somente os poderes do vingador podem resolver. E o que acaba acontecendo? Outros personagens não se destacam – entrando, sumindo e retornando para a trama de forma desorganizada – e os vilões, mais uma vez, acabam sendo mal desenvolvidos e suas intenções soam artificiais e supérfluas. Por exemplo, o personagem de Guy Pearce, o cientista Aldrich Killian, resolve se vingar de Stark por o empresário tê-lo feito esperar no telhado por horas, há alguns anos. Essa motivação é chula e não consegue convencer a maioria da audiência.

Baseado no arco de histórias sobre o vírus Extremis, tal peripécia se perde um pouco por conta da presença de Mandarim. Igualmente a “Homem-Aranha 3” (2007), o antagonismo é prejudicado pelo excesso. Para que haver duas problemáticas numa trama de tom mais intimista? Ora se perdia o foco de uma para dar espaço a outra, e vice-versa.

Todavia, nada deu tanto o que falar como o que se destinou ao Mandarim. Um dos mais clássicos inimigos do herói, o vilão foi ridicularizado pelo roteiro de Black, numa espécie de paródia de filmes do gênero. Há de se convir que a estratégia resultou em uma originalidade ao enredo e surpreendeu a todos, mas a questão que ficou no ar é: por que logo com o Mandarim? Por que se perdeu dessa forma a oportunidade de se criar o primeiro grande antagonista no cinema para o Homem de Ferro?

Por conta disso, muitos relatam a sensação de terem sido enganados. E não é para menos. Os trailers, vídeos e até as entrevistas anteriormente divulgadas parecem que venderam outro filme. Foram descontextualizadas algumas cenas e que, juntadas a outras, deram a impressão de um tom mais sombrio, perturbador, profundamente intimista e dentro de situações mais movimentadas. Quando não. Embora um pouco mais dosado que nos projetos antecessores, Stark continua com seu humor ácido e sarcasmo cruel, que funciona em muitas situações mas influencia negativamente também na carga emotiva de outras. Por exemplo: sendo Potts a mulher de sua vida, haveria motivo para fazer piada logo depois de sua provável morte? Isso sem contar que às vezes parecia forçado, como naquela dancinha para colocar a armadura.

Mesmo assim, existem pontos interessantes presentes neste episódio. O primeiro deles, logicamente, continua sendo o carisma de Downey Jr, que literalmente carrega o filme nas costas. É difícil imaginar o futuro do Homem de Ferro desassociado à sua figura, visto que para as próximas películas o ator já terá passado dos 50 anos. A facilidade com a qual incorpora o personagem e o deixa muito fiel aos quadrinhos vai muito além das semelhanças físicas, sendo “simplesmente” a personificação do Tony Stark. Menos exibicionista que nos outros filmes, o ator continua sabendo dar o tom perfeito à sua interpretação.

As sequências de ação, agora em menor número, também não decepcionam. Além do embate final, como não poderia ser diferente, a que mais se destaca é a do avião. É claro que nos remete à sequência de abertura de “O Cavaleiro das Trevas Ressurge”, só que em proporções menores e com outra finalidade. Uma vez que agora o herói luta por motivos pessoais, salvar pessoas quer dizer que ele ainda se preocupa com o coletivo e não passou a usar sua tecnologia e armadura somente para vingança. Ademais, ter feito a escolha de resgatar onze civis ao presidente dos Estados Unidos foge do clichê e lhe dá humanidade, visto que o mais importante é a quantidade de vidas e não a classe ou a função da pessoa na sociedade. Embora ignorada por alguns fãs que a consideram forçada, essa sequência é mais simbólica que fundamentalmente necessária.

Outro ponto importante – talvez o mais de todos – é o rumo que o desfecho do filme acarretará para a própria franquia assim como para todo o universo cinematográfico da Marvel, que está cada vez mais se distanciando das suas origens primárias. Agora Stark desfez do seu reator de energia do peito e a Potts tem poderes. Como isso será aproveitado é a grande questão, uma vez que todos esses projetos são interligados e formam um universo coeso.

Então, para muitos, a segunda fase da Marvel não chegou a começar com o pé esquerdo, porém há o sentimento de “pé direito amputado”. Ou seja, os erros foram tão sobressalentes que deixaram opacos os possíveis – e poucos – acertos e frustraram as grandes expectativas que o público mantinha. Diante de um filme de qualidade duvidável, resta-nos esperar pelos outros já confirmados desta fase: “Thor 2 – O Mundo Sombrio” (2013), “Capitão América 2” (2014), “Guardiões da Galáxia” (2014) e “Os Vingadores 2” (2015), onde os equívocos precisam ser urgentemente sanados.

Estaria a Marvel se aproveitando dessa febre de super-heróis, que a própria trouxe de volta, para se importar mais com as bilheterias que com a qualidade das produções? Que nós, fãs dos quadrinhos, sejamos ouvidos, pois infelizmente já começamos a nos preocupar com o que ainda vem pela frente...

Nota: 6,5. (Fora, Black!!! rsrsrsrs)

Dica: não canse os seus olhos com a versão em 3D. Nunca houve na história do Cinema uma conversão tão fajuta, mal-feita e caça-níquel como esta. Tudo bem que as conversões da Marvel nunca foram de fato boas, mas em “Homem de Ferro 3” não se trabalham profundidades da tela, texturas de imagem, sequer a interatividade com o espectador. Simplesmente nada! É só mais um ponto negativo e que vem a descredibilizar o estúdio.

Dan Niel
Enviado por Dan Niel em 28/04/2013
Código do texto: T4263716
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