Comentário crítico sobre o documentário “A Sede do Peixe”
Como bem disse Samuel Rosa, vocalista do Skank, “boa música não precisa nascer em Liverpool” e realmente, a boa música não é proveniente só de Liverpool... é o que prova o documentário “A Sede do Peixe.
“A Sede do Peixe” aborda a gênese da carreira de Milton Nascimento, que começou na década de 60 com o “Clube da Esquina”, um grupo de quatro amigos (Milton e os irmãos Borges, Marilton, Lô e Márcio) boêmios que se reuniam para conversar e acabavam por criar canções.
O “Clube da Esquina” cresceu, algum tempo depois, ao quarteto inicial, vieram a se agregar, os músicos: Tavinho Moura, Flavo Venturini, Beto Guedes, Fernando Brant, Vermelho e Toninho Horta.
Em meados de 1972, é lançado o primeiro LP do “Clube da Esquina”, que marca a história da MPB.
Apesar de todo o preconceito em cima da vida boêmia (que parece perdurar até os dias atuais), Milton, um mineiro por consideração, apesar de nascido carioca, conseguiu notoriedade nacional, e muitas de suas canções caíram nas graças do povo. Não há quem não conheça, que nunca tenha, ao menos, cantarolado, “Maria, Maria é um dom, uma certa magia,uma força que nos alerta...”.
O mais incrível disto tudo foi, durante o documentário, a versão mais-que-perfeita da música “Clube da Esquina”, executada divinamente por Milton Nascimento, uma música que, apesar da simplicidade, demonstra profundidade ao falar da realidade que circundava o grupo boêmio, das noitadas de bar e, principalmente da música, elo de ligação dos rapazes do “Clube da Esquina”.
Mas, desviando um pouco da história exposta no documentário, que seja tratado o próprio documentário... um documentário de curta duração, leve, pois mescla um pouco de história e um pouco de música, o que deixa o documentário ainda mais agradável, faz com que o expectador anseie por mais uma música, por mais um relato.
Ao invés de “Made in Liverpool”, Milton (“Made in Rio de Janeiro”) faz um sucesso tão considerável quanto os Beattes, sendo reconhecido principalmente no exterior pela sua música.
Não poderia ser diferente o término desta crítica... portanto, que haja regozijo na música que tão bem espelha o que foi a gênese de Milton Nascimento, que deixa tão explícita e perene a história do “Clube da Esquina”...
Clube da Esquina
Lô Borges / Márcio Borges / Milton Nascimento
Noite chegou outra vez
De novo na esquina os homens estão
Todos se acham mortais
Dividem a noite, a lua
E até solidão
Neste clube a gente sozinha se vê
Pela última vez
À espera do dia
Naquela calçada fugindo de outro lugar
Perto da noite estou
Um rumo encontro nas pedras
Encontro de vez
Um grande país eu espero
Espero do fundo da noite chegar
Mas agora eu quero tomar suas mãos
Vou busca-la onde for
Venha até a esquina
Você não conhece o futuro
Que tenho nas mãos
Agora as portas vão todas se fechar
No claro do dia um novo encontrarei
E no Curral Del Rei
Janelas se abram ao negro do mundo lunar
Mas eu não me acho perdido
Do fundo da noite partiu minha voz
Já é hora do corpo vencer a manhã
Outro dia já vem
E a vida se cansa
Na esquina fugindo pra outro lugar