CASA VAZIA (BIN-JIP - 2004 - KIM KI-DUK)

Em Primavera Verão Outono Inverno e Primavera eu já tinha notado a quantidade de filme dedicado ao silêncio, tornando o filme uma obra altamente dependente do público que a assiste, assim como também na obra prima Herói.

Nesse filme é extraordinário o fato de ao longo da projeção os protagonistas não emitirem uma sequer palavra (com exceção de uma fala, que mais tarde falarei sobre). Em um ambiente onde as ações, as intenções, os corpos dizem mais do que diálogos inspirados pelos roteiristas. O que dá extremo crédito aos atores que fazem de seus momentos, diálogos corporais, através de olhares, e posições corporais.

Outra característica marcante é a determinação para superar os obstáculos através da paciência e do conhecimento. O personagem não se entrega nunca ao jogo do mundo que o rodeia, permanecendo sempre fiel a sua natureza. É um longa para se degustar e o conceito de obra aberta, aquela que procura a parceria do publico para ser completada, nunca me foi tão explicito quanto nesse filme.

Impossível não falar do cuidadoso trabalho do diretor e das escolhas que faz ao longo do filme em seus ambientes. Mostrando sempre a inutilidade de milhares de coisas e destacando a incapacidade de diálogo e compreensão entre os seres. Ao compor personagens que não emitem uma palavra o filme nos mostra como as palavras saltam de forma horrenda da boca de outras pessoas, sempre apressadas em concluir, julgar, expor ciúmes e egoísmos.

A trilha sonora é algo que ajuda e compõe uma parte importante do filme já que ela está intimamente ligada com cada momento em que é invocada, colocando esse ou aquele contraponto na ausência e palavras por parte da dupla que ao longo do filme vai se conhecendo melhor sem trocar sons.

Uma ótima demonstração dessa composição através do silêncio, é quando a protagonista corta e reestrutura uma foto claramente indicando sua confusão e seu estado emocional confuso, e mais tarde ao vermos a mesma foto remontada com apenas duas peças trocadas concluímos que a personagem está reerguida, mas ainda falta um pedaço a ser posto no lugar. Este que o final do filme nos deixa claro.

(Atenção, alguns spoilers nos parágrafos abaixo)

Foi com extremo pesar, ou extremo orgulho, não sei bem ainda, que previ a única frase dita pela protagonista ao longo do filme, e essa pulou em minha mente assim que reparei o contato mais duradouro do casal, não poderia deixar de ser a única e plausível frase a ser pronunciada, mas também quebra o encanto com aquela das frases mais banais do cinema, mesmo que colocada em uma circunstância única ela incomodou um pouco e se você ainda não sabe que frase é essa, ainda bem, pois o filme vai te dar mais essa surpresa.

Outra coisa que vem premiar o longa é a frase mostrada no seu final, essa que é realmente o resumo do mostrado e por isso, coisa que o espectador mais esperto teria sacado ao longo do filme, meio inútil de dizer, algo como uma redundância, mas que vem nos colocar o silêncio mais uma vez em posição estratégica, já que ao final de um filme mudo, deveríamos querer sair do cinema e trocar umas palavras, coisa que a frase corta de modo muito bonito, incutindo o prolongamento do silêncio para fora do cinema. E ao sair da sala de projeção ou de frente da televisão você provavelmente vai ver que qualquer palavra é inútil para descrever o filme, preferindo ficar em silêncio. Como fico a partir daqui.

leandroDiniz
Enviado por leandroDiniz em 18/08/2005
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