300

300, de Zack Snider , EUA-2007

FLAVIO MPINTO

Filme épico, meio caricato até, abordando a célebre Batalha das Termópilas, em 480 a.C, na Grécia Central entre espartanos e persas. Fazia parte do que convencionou-se chamar de Guerras Médicas. Medos contra persas.

Aquela turma passava brigando. Que coisa! Não basta termos complicações filosóficas até hoje pela guerra de Tróia ainda temos a das Termópilas.

Mas foi épico, porquê narra uma estória grega , muito grega por sinal, exalando valores e princípios fortíssimos, destacando-se a coragem e o patriotismo. Caricato, por apresentar o inimigo- ou seja, os persas, de modo ridículo. Daí a "choradeira" dos iranianos, seus descendentes, com isso.

A invasão da Grécia pelo exército de Xerxes- o rei dos reis como se intitulava- literalmente acabou com o Gre-Nal do mar Egeu: gregos contra troianos e os obrigou a prevenirem-se contra um inimigo maior, muito maior. Ah, como era grande o exército de Xerxes. Mas não era dois e assim os espartanos caíram encima dele no desfiladeiro das Termópilas, ali bem no Peloponeso. Sob o comando do rei Leônidas I, os 300 melhores espartanos( aliás, todos em Esparta eram guerreiros) e de aproximadamente 7 mil homens das cidades-Estado gregas barraram os quase meio milhão de persas ( de acordo com Heródoto) no desfiladeiro, retardando sua marcha a Atenas. Foi uma guerra da Hélade contra o poderoso exército persa e, esse episódio, evitou a destruição do que é considerado o berço da civilização ocidental. Após massacrarem os 300, claro ante a imensa supremacia , nem metralhadora tinha naquela época..., os persas decidiram por um tempo se reorganizar e quando atacaram de novo, a Grécia toda tinha se levantado e acabaram derrotados e expulsos. Afinal, a supremacia já não era tanta: só três persas por espartano.

Mesmo tendo sido dizimados, os 300 legaram valores imutáveis ás gerações vindouras. Especialmente Leônidas I, rei e general de Esparta. No final, já cercado pelos persas, Leônidas I presente que seu fim está próximo, pois a vitória é impossível, e brada aos seus soldados "...almocem comigo e jantem no inferno..." como a prenunciar o que aconteceria. E morre como São Sebastião: crivado de flechas. Mas cumpriu sua missão patrioticamente.

O filme inicia quando, em seu palácio recebe uma comitiva persa que lhe pede , como era praxe naqueles tempos antes do combate, submissão ante Xerxes, tal sua intenção da invasão e supremacia militar. Xerxes, filho de Dario I era como o Barcelona: queria ganhar só na "camiseta".O emissário persa já solta uma gracinha, ao ser interpelado por Gorgó, a rainha, dizendo que"... como podiam admitir mulheres nesses assuntos..." , ao que a rainha respondeu que ".. as espartanas eram as únicas que pariam homens de verdade.."

Ante a ofensa da comitiva persa dentro do seu palácio, Leônidas toma uma atitude digna de um mandatário, que dentro do seu torrão, é ofendido por estrangeiros em missão oficial. Vale lembrar para que servem os mandatários de uma nação além de ostentar títulos: são pagos para defenderem interesses dos seus países. Nada melhor lembrar o que um "rei cocalero" fez com negócios brasileiros recentemente. Só que o nosso chefe não se ofendeu, muito pelo contrário, apoiou aquele que se apossou de ativos nossos. Se fosse naquele tempo, ........ Hoje.....

Um dos episódios marcantes foi na despedida de Leônidas de Gorgó, que lhe pediu que " ou voltasse sem seu escudo ou sobre ele". A rainha engrandecia o seu rei em todas as oportunidades prestigiando-o, apoiando-o, sempre dando o apoio necessário e suficiente além do cuidado na sua casa como mãe, educadora e dona de casa, nunca concorrendo com o marido e sim junto dele, nem atrás nem na frente. Parceira. Assim eram educadas as mulheres espartanas.

Como lições militares, os espartanos aproveitaram uma das máximas da defensiva onde o defensor pode se dar ao luxo de escolher o lugar de lutar, apenas tem de saber como conduzir o inimigo até lá. E a escolha judiciosa do terreno por Leônidas I foi fatal para o grande número de baixas persas, que cientes da vitória, não poderia ser de outra forma, não se preocuparam com o terreno. Foi uma vitória de Pirro, pois os espartanos também lutavam pela sua liberdade e cumpriram sua missão de retardamento das tropas persas.

A outra lição militar foi a do exemplo do comandante que lidera e morre com seus soldados. Além da proporção aceita para atacantes nos trabalhos escolares das escolas militares que é de 3 para cada defensor.

Leônidas I, fora á guerra contrariando os Éforos, velhos guardiões do Oráculo. Este, uma virgem entregue aos desalmados velhos para saciá-los e interpretar seus desígnos, balbuciou que não deveria haver guerra, pois festejavam a Carnéia-festival em honra de Apolo e nela toda guerra parava. Era época de Olimpíadas. Uma boa idéia para o Rio de Janeiro na época do Pan2007, que acham?

Voltando aos èforos, como gostavam os gregos de sacrificar suas mais belas mulheres? Assim foi na guerra de Tróia com Ifigênia, filha de Agamenon. Imaginem entregarmos as nossas melhores ao sacrifício em prol da Copa do Mundo?

Na História do Brasil podemos citar dois episódios , guardadas as devidas proporções, que refletem semelhanças com esses feitos de Leônidas I: a defesa da Colônia de Dourados na Guerra do Paraguai pelo tenente Antonio João, que retrata bem a mensagem de Leônidas aos espartanos, antes de permanecer apenas com alguns de seus bravos 300 que ainda sobravam. Aqueles que retornaram a Esparta formaram um exército e voltaram ás Termópilas para a vitória. O tenente Antonio João comandava o Distrito Militar de Dourados-MS quando recebeu a informação em 28 de fevereiro de 1864 que uma grossa coluna paraguaia se organizava para atacar seu posto. A saber, o Paraguai possuía o maior e mais bem preparado exército da América do Sul, naquela época. Só para esse ataque dispunha 200 bocas-de-fumo( canhões) e Antonio João apenas 14 homens. Pressentindo o ataque e a impossibilidade de impedir o avanço inimigo, o comandante evacua os civis e manda uma mensagem ao seu escalão superior na qual se referia, dentre outras "....Sei que morro, mas o meu sangue e o de meus companheiros servirá de protesto solene contra a invasão do solo de minha Pátria...". Todos morreram sob o peso da fuzilaria paraguaia.

E a defesa da Lapa pelo Cel Gomes Carneiro durante a Revolução Federalista como comandante da Praça da Lapa-PR, ao defendê-la com toda sua bravura. Sua morte no dia 10 de fevereiro de 1894, foi recebida por Floriano Peixoto com a frase "... a Lapa caiu? então Carneiro morreu...".

Assim como os bravos de Leônidas I e ele próprio, brasileiros tiveram o mesmo comportamento na defesa da Pátria e de seus princípios com liderança, coragem, abnegação, sacrifício, ousadia e honra, do comandante ao último soldado.

Enfim, o filme vale a pena ser assistido, descontando-se os jatos de sangue que saíam dos persas e pareciam ser voláteis: a quantidade era muita, mas siquer manchavam o chão, que continuava limpo como Box de fórmula 1! Ah, os Imortais , como tropa de Xerxes existiram mesmo, mas me fez lembrar a tropa de elite de defesa pessoal do Sadam , tartarugas ninjas ou o exército do Fantomas, quem lembra? Mas é isso e filme americano sempre trata o inimigo de forma caricata.

PS- este trecho escrevi após receber a crítica do Edbar e solicito que todos leitores considerem sua opinião muito válida e oportuna. Obrigado, Edbar.