A ARQUITETURA DA DESTRUIÇÃO

Por um insano e desnaturado desejo que corresponda as expectativas mais íntimas comete-se na maioria das vezes atos escabrosos de efeitos incalculáveis atropelando direitos alheios, descumprindo leis, regras e princípios humanitários, através do poder, da força, do domínio sobre os mais “fracos”, “inferiores” e “vulneráveis”.

A idéia de Hitler, líder nazista, era transformar o mundo todo com os ideais de beleza contidos em seu sonho, mas para isso seria necessário transformar uma nação e todos os seus habitantes num exemplo para toda a posteridade. Amantes das artes, e habilidoso pintor com certo talento, talvez sua rejeição quando ainda jovem, em não ser aceito na academia de arte de Berlim tenha deflagrado em seu inconsciente a compulsão em defender de forma obsessiva esta utopia, e quem sabe poder justificar seu incontrolável desejo em acumular enorme acervo em obras de arte.

Seu repúdio às novas concepções artísticas, propostas vanguardistas criadas naquele período, que destoava da uniformidade de traços e linhas definidos como padrão formal de estética, antes que pudesse representar uma ameaça contagiante ao conceito de beleza disseminado por toda a sociedade alemã foi aos poucos tomando contornos ilimitados culminando com a utilização da força militar numa tremenda devassa contra este provável inimigo, justificando esta arbitrariedade. As obras que retratavam figuras disformes, deformadas, alienadas, considerada “arte degenerada”, correspondiam na sua mente doentia, os aspectos físicos e emocionais de uma sociedade também “doente”, marcadamente pela presença dos judeus que representavam as marcas desta enfermidade, que longe de qualquer tratamento precisaria ser simplesmente eliminados. Com este ideal a frente instaura um período de estímulo à higiene, a limpeza por toda a nação, passando ser exigência primordial e a resposta da sociedade vem de pronto. Naturalmente que os judeus não despertavam nenhuma compaixão no líder alemão, longe de seu ideal de beleza, e o incômodo desta convivência elege-os culposos, um entrave a concessão de todo seu plano em mudar esteticamente a vida, a humanidade e acima de tudo uma presença altamente contagiante a toda a nação alemã e a pureza de sua alma.

Colocados à nível de “ratos” que eram combatidos dentro do programa de higienização, milhões de judeus são perseguidos, enclausurados e eliminados covardemente com a mesma estratégia. Levar adiante até as últimas consequências esta ideologia visionária de beleza e estética era tão significativa pela maioria do primeiro escalão do poder, ocupados por muitos artistas frustrados, que mesmo com a derrota eminente o cronograma de expurgo foi cumprido dentro dos campos de concentração e das câmeras de gás.

O filme retrata como Hitler possuía uma grande capacidade de persuasão, soube utilizar estrategicamente os meios de comunicação da época, fazendo a propaganda de sua ideologia, atraindo as atenções e a adesão popular. Observa-se no documentário os efeitos do etnocentrismo: a intolerância de conviver pacificamente com as diferenças, o ponto extremado do abuso do poder.

O que me fez refletir foi o fato narrado logo no início quando de sua presença e auxiliares a um espetáculo de ópera. A descrição do personagem, sua personalidade e sua luta deve ter tocado profundamente Hitler fazendo despertar seus ímpetos megalomaníacos motivando-o a transformar a vida, de forma totalmente equivocada, através da arte....

E o mais surpreendente é concluir que o nazismo não teve causas políticas, mas sim estéticas, e na defesa deste obsessivo ideal os eliminados não foram os inimigos do regime político e sim criaturas inocentes inadequadas a este conceito.

Néo Costa
Enviado por Néo Costa em 26/08/2013
Reeditado em 21/07/2019
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