Desvarios e sensibilidade à flor da pele em Um Novo Despertar

Um título pouco convidativo e, talvez à primeira vista, uma trama que não fuja ao literal e esperado, sem enlaces e desenlaces que amarrem o espectador. Mas é aí que acontece o engano: Um Novo Despertar, dirigido e estrelado por Jodie Foster, e com Mel Gibson no papel principal, tanto prende como encanta já nos primeiros minutos.

Com Anton Yelchin, Michelle Ang e Jennifer Lawrence no elenco, ”The Beaver”, título original do drama, conta a história de Walter Black (Mel Gibson), um empresário atormentado pela depressão e dono de uma empresa de brinquedos à beira da falência. Após uma crise de desespero, o personagem se depara com o fantoche de um castor que mudará os rumos da sua vida. Finalizado em 2009, Um Novo Despertar foi lançado somente este ano, principalmente devido aos problemas pessoais envolvendo o astro Mel Gibson.

É um enredo que ora dá vazão ao drama, ora à comédia, e que caminha muito bem nesse limiar. E ainda que não haja inovação quanto a planos, montagem e trilha – e tendo sido lançado no restrito circuito de filme de arte -, é um filme que explora muito mais a temática em si, destrinchando-a, sem colocar como primordial o aparato técnico cinematográfico.

A depressão sentida pelo astro é fruto do subconsciente, alimentado dia após dia. E é também do subconsciente que ele encontra forças para lutar contra seus pontos fracos, fugindo da convencionalidade das terapias e livros de autoajuda. Um fantoche de pelúcia passa a ser a válvula de escape onde são projetados os medos, passado, presente e futuro de Walter.

O Castor é a força de que Walter precisa inicialmente. É o líder que pode se sair bem como pai, trabalhador e como ser humano, mas somente até o momento em que Walter começa a se reerguer e adquire força própria. É quando uma dupla personalidade duela entre si: de um lado o frágil Walter; de outro, o autoritário Castor. E todo o processo de quedas e progressos é acompanho de perto ou de longe pela esposa Meredith, interpretado por Jodie Foster (como diretora superobservadora).

E, sem dúvidas, é um dos grandes trabalhos do ator, o tom exato do personagem. A fábula moderna, no tom lúdico necessário ao enredo, certamente surpreende no caos cinematográfico e supercloses do cinema atual.