Resenha do Filme - "Memórias Póstumas de Brás Cubas"

* Trabalho apresentado por acadêmica do Curso de Letras à Universidade Claretiano.

Título: Memórias Póstumas de Brás Cubas

Diretor: André Klotzel

O filme “Memórias Póstumas de Brás Cubas” lançado em 2001 é baseado no livro homônimo do escritor Machado de Assis. Recebeu prêmios no Festival de Gramado por melhor filme, melhor direção, melhor roteiro e melhor atriz coadjuvante. Recebeu também três indicações para o Grande Prêmio Festival de Cinema, nas categorias de melhor roteiro, melhor direção de arte e melhor fotografia. É um trabalho que fez jus ao apoio recebido pelo Ministério da Cultura para sua realização, pois traz ao público uma releitura deste livro que foi o responsável pelo reconhecimento da obra de Machado de Assis ainda em vida. Críticos dividem a obra deste gênio brasileiro em duas fases: uma antes de Brás Cubas, e outra depois.

O filme segue o mesmo estilo do livro, fazendo uso do narrador em primeira pessoa. Reginaldo Faria está muito bem no papel do “defunto autor”, trazendo para sua interpretação a ironia e o humor contidos na escrita de Machado. Outra boa surpresa do filme é que grande parte do texto do ator Reginaldo Faria, são citações literais da obra do “Bruxo do Cosme Velho”.

Até mesmo a dedicatória do livro é mostrada no início deste filme: “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver, dedico com saudosa lembrança estas memórias póstumas”; o que é uma marca do Realismo de Machado de Assis.

A história começa com o personagem Brás Cubas, já falecido, contando em detalhes a vida que teve. O início é um olhar rápido que vai desde seu nascimento, suas traquinagens de moleque, sua iniciação amorosa na juventude, o período que passou em Lisboa estudando Direito, suas viagens pela Europa e seu retorno ao Brasil por ocasião da morte de sua mãe.

Estando já formado, seu pai deseja que ele se case, constitua família e entre para a política, tornando-se deputado. A idéia inicialmente não lhe agrada. É nesse momento que Brás conhece Eugênia, por quem se apaixona, mas a moça tem um problema em uma das pernas que a faz mancar ao caminhar, e devido a isso ele a rejeita. Depois ele apaixona-se por Virgília, mas ela escolhe se casar com Lobo Neves, que torna-se deputado no lugar de Brás.

Vemos que Lobo Neves tem a vida que Brás Cubas poderia ter tido, se houvesse tomado a decisão e a atitude necessárias. Sua indecisão, porém, fez com que outro agisse mais rápido e passasse à sua frente. Como diria seu colega de infância e conselheiro Quincas Borba: “Ao vencedor as batatas!”

Citando Quincas Borba, temos aqui a feliz presença de Quincas neste filme, interpretado pelo grande ator Marcos Caruso. Sabemos que Quincas é personagem principal de outro livro de Machado de Assis, o que nos remete ao Dialogismo, onde uma obra “dialoga” com a outra, criando uma interação que é agradável ao leitor da obra e também ao telespectador deste filme.

Seguindo a história amorosa de Brás Cubas e Virgília, após casar-se com Lobo Neves ela inicia um romance com seu ex-pretendente. Temos aqui a matéria-prima para as obras de Machado de Assis: o adultério.

Virgília engravida e, mesmo sem ter certeza sobre quem é o pai do bebê, Brás Cubas fica imensamente feliz, sentindo-se como um “deus”. Para sua infelicidade, porém, ela perde o bebê. Temos então a cena de tragicomédia onde Brás Cubas e Lobo Neves se consolam mutuamente pela gravidez mal sucedida de Virgília. Depois disso o marido traído passa a desconfiar da esposa, mas o romance não é descoberto porque ambos mudam-se para outro Estado, devido a uma nomeação política de Lobo Neves.

Acaba aí o romance de Brás Cubas e Virgília, e ele, que já está com mais de quarenta anos começa a se sentir amargurado e melancólico por ver que o tempo passou e ele nada fez de sua vida: não casou, não teve filhos, não exerceu a advocacia, não foi político, enfim; acomodou-se à sua vida financeira bem estabelecida e não teve nenhuma realização que proporcionasse alegria à sua existência.

Ele pensa então em recuperar o tempo perdido casando-se com Eulália (Nhã Loló), com o propósito de ter filhos. Mas a moça morre aos dezenove anos devido à epidemia de febre amarela. Vemos aqui um fato histórico do século XIX retratado na obra de Machado de Assis. Ou seja, conhecer a obra de um autor é também saber mais sobre a época em que ele viveu, os hábitos das pessoas de seu tempo, quem conheceu, quais os fatos históricos que presenciou, etc.

Os anos passam, Brás Cubas já conta de sessenta anos quando revê Virgília. Na sequência Lobo Neves morre e, ao ver sua ex-amante chorando sobre o corpo do marido, novamente transparece a ironia e o humor do autor através da frase: “Virgília chorou com sinceramente o marido, como havia o traído com sinceridade”.

A melancolia toma conta de Brás Cubas, e é então que ele tem a idéia de criar um emplasto que seria um tipo de medicamento capaz de curar todas as dores da humanidade, “desde azia até melancolia”. Brás tem sonhos grandiosos sobre este projeto e acredita que entrará para a história pela criação deste medicamento. Mas, antes que possa realizar sua invenção, acaba por contrair pneumonia e falecer, sem nada de especial ter feito em sua vida.

Fechando a trama, vemos a característica principal da Escola Literária Realista, onde os finais nem sempre são felizes, pois a vida também é feita de “trapos” e sofrimento. A melancolia de Brás Cubas faz este defunto autor afirmar que pelo menos algo de bom fez de sua vida. Ele diz: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”.

REFERÊNCIAS:

Material de Estudo da Universidade Claretiano – Literatura Infanto Juvenil, Unidade 6 – Textos e Interterxtos: Confluência de Linguagens.

Material de Estudo da Universidade Claretiano – Literatura Portuguesa e Brásileira 4, Unidade 1 – Realismo.

Memórias Póstumas, disponível no site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mem%C3%B3rias_P%C3%B3stumas, consultado em 03/03/2014.

Memórias Póstumas de Brás Cubas, disponível no site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mem%C3%B3rias_P%C3%B3stumas_de_Br%C3%A1s_Cubas, consultado em 03/03/2014

PIZA, Daniel. “Machado de Assis – Um gênio Brasileiro”, sem número de edição – São Paulo, Imprensa Oficial, 2005.

Quincas Borba, disponível no site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Quincas_Borba_(personagem), consultado em 03/03/2014.

Lady J
Enviado por Lady J em 03/03/2014
Código do texto: T4714235
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