NO LABIRINTO DA GUERRA CIVIL ESPANHOLA ?

NO LABIRINTO DA GUERRA CIVIL ESPANHOLA ?

No ano que vem, 2016, o inicio da Guerra Civil Espanhola fara’ 80 anos, 50 anos passados do filme A Guerra Acabou, de Alain Resnais, exibido em 1966, 30 anos apos o inicio desta guerra, significativamente situada entre as duas grandes guerras mundiais, onde para a Direita espanhola, tratava-se de uma Cruzada para livrar o pais da influencia comunista, da franco-maconaria e reestabelecer os valores da Espanha tradicional, autoritaria e catolica. Para tanto, formou-se a “Trindade Reacionaria” entre o exercito, a igreja catolica e o latifundio, com o objetivo de esmagar a Republica, que havia sido proclamada em 1931, com a queda da monarquia.

A vitoria da Direita falangista, apoiada pelo fascismo italiano e pelo nazismo alemao, como e’ sabido, gerou o Generalissimo Francisco Franco Bahamonde. Mas, um nome so’ nao basta, pois, ha’ todo um suporte de inumeras outras pessoas. As ideias, as vontades e as acoes se organizam partidariamente. E, e’ neste tacho que a sopa a ser servida, conclusivamente se forma, via guerra, golpe, voto e arte (“engenho&arte”). Ou seja, a somatoria dos componentes deste caldo, inclui as profundas raizes do passado. Mas, o estado militar vitorioso, nao elimina o todo, ha algo que escapa e permanece, pertencendo aa superestrutura e aa subjetividade. Neste algo, esta’ a dimensao das obras artisticas e seus inumeros autores - Picasso, Lorca, Dali’, dentre outros. Assim, existe concretamente, uma vitoria especial, contida no tempo! Num dos animos desta vitoria especial esta’ a Utopia. E’ a chama da transposicao para o “amanha possivel”, ou simplesmente amanha.

Resnais usa a imaginacao objetiva no seu filme “A Guerra Acabou”. A realidade que busca imaginar sobre a Guerra Civil Espanhola, ele explica assim: “a imaginacao nem sempre e’ fantastica. Ela pode ser, e o e’ geralmente, rigorosamente banal, cotidiana”. E’ exatamente por isso, que o diretor frances aposta no seu personagem Diego, como resistente portador da essencia da luta - o amor, capaz de vencer o esclerosamento da posicao politico-social dos falangistas; e nesse sentido, enfatisa: “Sem amor, Diego nao poderia tornar-se um heroi, porque afinal, o que teria ele a defender?”.

Em 2006 no entanto, surgiu no mercado cinematografico, um interessantissimo filme sobre a Guerra Civil Espanhola, trata-se de uma producao Mexicana-Espanhola-Norteamericana, sob “script” e direcao de Guillermo Del Toro, o “Labirinto do Fauno”. Uma das criticas a favor desta bem recebida obra, encontra-se no link: http://www.telacritica.org/labirintoDoFauno.htm. Neste filme, ha’ uma aparente mistura de realidade e fantasia, objetividade e utopia, lugar e nao-lugar, hoje e amanha. Na obra, o autor contrasta o mundo magico (G.G.Marques?) de uma adolescente com a imposicao do exercito de Franco. A metafora poetica que fica e subleva deste contraste, e’ sem duvida, a vitoria da continuidade do amor. Este e’, sem qualquer margem de erro, o elo da sobrevivencia de tudo. No entanto, apesar da beleza da obra, da vitoria transcendente sobre a barbarie estupida, ainda resta-nos uma margem de duvida, qual seja, no ultimo instante do filme, o sacrificio humano por amor, que resulta na vitoria da vitima com premio da redencao. Del Toro conclui que o sacrificio de um-pelo-outro (este mesmo que nos e’ chamado a “morrer pela patria amada”) salva, com a vida-apos-a-vida, a jovem que se sacrifica para salvar o nascituro - ela morre pelo bebe^, pelo novo, pelo advir. Ate’ ai’ faz sentido, pois a Espanha tem largas raizes na Idade media catolica das cruzadas, da velha formula do cristo morto para salvar a humanidade. Mas quanto a herdar o trono monarquico, na cena final, nao e’ avanco, e sim retrocesso. A ressureicao da monarquia no plano espiritual, esta’ fora da modernidade. Dar um passo atras, pelo renascimento da metafora dos contos de fadas - magia tantas vezes queimada nas fogueiras com as bruxas pela inquisicao, pode e deve ter melhor solucao do que o renascimento da monarquia, ainda que no plano fantastico e etereo.

Salvador Dali’ mostrou como e’ possivel reviver a fantasia, ao ilustrar a obra “Don Quixote”, do medieval Cervantes; e ao pintar a sua “Premonicao sobre a guerra civil espanhola”.

Em todo caso, vamos dizer junto com Douglas Adams: “Nao e’ o bastante ver que um jardim e’ bonito sem ter que acreditar tambem que ha’ fadas escondidas nele? “

Eugenio Malta
Enviado por Eugenio Malta em 06/02/2015
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