"Cidades de Papel": mais que um filme para adolescentes

Há certas narrativas que se valem da adolescência como protagonista por duas questões bem básicas: a mercadologia, por ser um público altamente consumidor; e toda a romantização que é dada a ela, principalmente depois de a Psicologia a enquadrar como a fase da descoberta dos sentimentos, do corpo, e outras tantas idealizações cabíveis. Entretanto, essas estórias possuem tamanha amplitude que aqueles que já passaram dos 30, 40, 50 conseguem facilmente se identificar, uma vez que quebra de ciclos e novos inícios fazem parte do aprendizado que é a vida em qualquer idade.

Por isso que “Cidades de Papel”, adaptação de romance homônimo de John Green, abaixo de sua aparente superficialidade possui mensagens bastante significativas, muito além da amizade e do amor platônico, mas sim da descoberta de si mesmo e o quanto é importante levar isso em conta para ser feliz.

Mesmo obviamente sendo destinado aos adolescentes, a produção foi muito bem cuidada: os atores (ótimos!) são bem dirigidos e possuem uma química e versalidade enorme de emoções; o texto é simples, mas delicado e funciona bem; a fotografia realça paisagens e esconde quando convém; fora a trilha sonora.

O melhor é reservado para o final, que poderia ser decepcionante mas que acaba fazendo todo o sentido. Não se pode viver (n)a fantasia do outro e nem à sua expectativa, quando são os seus sonhos que clamam para serem ouvidos, libertos e vividos. Não há como amar o próximo se anulando. A cena do baile, a última, mostra exatamente isso.

Assim como não existe manual para ser feliz, e quem disse que no trivial não existe a felicidade? Nessa onda atual de se almejar tanto ser o que não é, por o diferente aparentar ser mais satisfatório, qual o problema em ser careta, em querer ter uma carreira e uma família, em não ser o tempo inteiro feliz? A decepção, inclusive, pode abrir mais os olhos para a realidade do que a fumaça de uma felicidade ilusória.

Apesar de muita comédia (o que é aquele lourinho encapetado? rs), não é um filme bobinho e que pode ter a ensinar a muitos, em qualquer faixa etária. Recomendo. Nota: 7,5.

Dan Niel
Enviado por Dan Niel em 21/07/2015
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