Soul Hunter, ou o mago do hipopótamo

SOUL HUNTER, OU O MAGO DO HIPOPÓTAMO
Miguel Carqueija


Resenha do animê Hoshin Engi (Soul Hunter, ou Caçador de almas), produção japonesa de 1998, do Estúdio Deen; 26 episódios dirigidos por Junji Nishimo. Criação em mangá de Ryu Fujisaki. Produção de Noriko Kabayashi e Mashahiro Toyosumi. Produção executiva: Keisuke Iwata e Takashi Harada.


Muito engraçado e interessante este animê dos anos 90, de traço ainda bastante tosco se comparado a outros animês da mesma época ou anteriores. É uma fantasia mitológica, carregada de folclore chinês, e com muito humor subjacente apesar da dramaticidade e violência de algumas cenas.
O enredo é complexo e de difícil análise. Conforme o excêntrico narrador, o misterioso Shen Kun, que pilotando um gato gigante, voador e falante (sic), dirige-se diretamente aos espectadores, a ação se passa num dos imérios chineses (anteriores à unificação) 11 séculos antes de Cristo. E embora conte coisas que não estão de acordo com a tradição histórica, este apresentador recomenda não dar importância a esse detalhe.
O Imperador Chu Ou, ainda relativamente jovem, deixou-se dominar por uma criatura maligna feminina, So Dakki (ou Daji na dublagem) vinda do “mundo superior” lá de cima. Ela seduziu o imperador, tornou-se imperatriz e o reino passou a sofrer com miséria e opressão. O mago Genshi, lá de sua montanha flutuante, onde é assessorado por um íbis falante (sic), convoca um discípulo, o mago Taikobo (ou Taikun na dublagem) para resolver o caso e lhe dá como veículo o familiar Supushan, que parece um hipopótamo voador mas insiste em dizer que não é hipopótamo, mas um animal mágico.
Taikun é obstinado, fleumático, meio desastrado, nem sempre tem o domínio da situação mas revela-se brilhante em algumas cenas, escrachado em outras. Muito jocosa a cena em que, parando num lugar onde não havia nada para comer e sentindo as dores da fome, ele repara que seu familiar Supushan está se deliciando com o capim, e resolve experimentar – o que lhe acarreta uma tremenda dor de barriga. É a primeira vez que eu vejo o herói de uma história comendo capim (com excessão de “Memórias de um burro”).
Ao longo de sua jornada e dos vários combate em que intervem, Taikun acaba juntando um grupo de aliados, como Nasa e Tunderbolt, heróis tão ou mais excêntricos que ele próprio. E no fim descobre que seu chefe não estava sendo sincero com ele. Desse modo, acaba tendo de confrontar seu guru numa luta desigual e também a super-vilã que, de certa forma, servia aos planos do mago chefe, mas depois segue os seus próprios. No meio de tudo isso diversos personagens envolvidos nos conflitos ainda têm tempo para s eocupar com problemas familiares e existenciais.
“Soul hunter” é assim uma série meio brega, anacrônica no seu visual, repleta de simbolismos nos animais mágicos e outros detalhes, retrato de uma época dos animês e que mantem o interesse no foco em seu protagonista, o herói relutante Taikun.


Rio de Janeiro, 20 de dezembro de 2015