Curta com qualidade: Resenha do curta Borra de Café

O curta‐metragem “Borra de Café” têm em torno 20 minutos de duração, um tempo de exposição curto, porém não impediu a composição do drama. Em resumo, este filme é uma expressão da arte nordestina e de resgate a cultura, ou seja, um meio de observar costumes, valores e aspectos religiosos de uma família produtora de café.

O filme foi lançado in 2010 no festival “Comunicurtas” em Campina Grande‐PB, Borra de Café teve destaque entre 51 filmes apresentados, “Borra” também ganhou o prêmio João Carlos Beltrão de melhor plano cinematográfico, melhor direção artística e melhor imagem da “Mostra de Tropeiros”. Aluisio Guimarães, o escritor e diretor observa o universo

nordestino de maneiras não convencionais, ou seja, onde a maioria das

pessoas e cineastas enxerga o nordeste como um lugar seco e de muitas limitações, o diretor reconhece e nos mostra as riquezas naturais e culturais presentes no Nordeste brasileiro.

Aluisio tem histórico na organização de peças teatrais e filmes; na direção geral ele colaborou com o curta “Máscaras” (Experimental), o documentário “Batalhão 41”; ficção “Vilma” e “Memórias de Maria”, confirmando uma representação satisfatória na produção de filmes de curta duração.

Borra de Café mostra os costumes de uma família tradicional do

século XX, formada pelo pai Antônio (Francisco Oliveira), que é um

homem bom e religioso, casado com Maria (Suelaine Lima) uma esposa

dedicada ao marido e a casa; ela morre ao dar a luz a sua filha Ana Beatriz, interpretada por Iara Porto, Sophia Vieira, Júlia Dantas, Iris Porto, e Rayanne Araújo em suas diversas faixas etárias. Ana foi criada por seu pai e por escravas da família, tornando‐se uma moça recatada e cuidadosa com os afazeres da casa. A história tem a participação importante dos tropeiros: Pedro da Mula (Napoleão Gutemberg) e Zé Tropeiro (João Demilton) que fazem o papel dos grandes mercadores de café, o que é destaque no plano da obra.

Tudo começa com uma cena imóvel de uma garota caída no chão,

como uma fotografia, prendendo atenção para história. Não fica claro o

que aconteceu, causando a impressão de mistério e possivelmente

desvendado no fim do filme. Nas cenas seguintes alguns tropeiros

atravessam uma bela mata entre o verde das árvores e as corredeiras dos rios, e uma mulher providencia o café cuidadosamente, seguindo em

detalhes todas as etapas para essa preparação. Essas cenas são mostradas em sequencia e com repetições, remetendo a grande importância da produção do café, naquela época e a ligação dos personagens com esse produto.

Não é mostrada a cena do parto e da morte de Maria, mas é

possível imaginar o acontecimento através dos recursos utilizados no

filme, como sons, que substituem falas e a pela ausência da personagem

nas cenas seguintes que mostram momentos cruciais da criação da filha.

Antônio é o responsável por Ana e ajuda na sua criação, ele cuida da

menina com atenção extrema. Um momento peculiar do filme o mostra

velando o sono da pequenina, enquanto costura uma boneca, que parece ser para a filha; o que demonstra um gesto de muito carinho pela menina.

Antônio presenteia Ana com a boneca enquanto ela está preparando o

café e já é uma adolescente; a garota se assusta e derrama a borra no seu vestido, da mesma maneira que sua mãe fazia quando era abordada pelo marido de surpresa. Ana sai para trocar o vestido sujo, seu pai vê a garota seminua e rapidamente vira o rosto, justificando que não foi intencional.

Neste momento observamos respeito e os recatos das famílias naquela

época. Uma noite, Antônio deixa Ana sozinha em casa, e ela recebe a

visita de dois tropeiros que trazem encomendas para o pai dela: Zé

Tropeiro traz um pó para o rosto de presente para Ana. Nas cenas

seguintes, a garota espera por seu pai na sala, quando ele chega, ver o

rosto da menina maquiado e fica sabendo que ela recebeu visitas; ele a

repreende em um gesto de excessivo cuidado, não parecendo mais um

protetor, mas o dono filha. Na mesma noite, Antônio vai para seu quarto, a cena o mostra em oração e Ana o faz companhia. A presença dela naquele momento é crucial para a melhor compreensão do filme.

Observamos na cena a confusão de sentimentos de ambos, pode revelar novas conclusões no final do filme. Bem, se eu continuar eu estaria encaminhando para o final e esta não é minha intenção.

Esclarecendo, o filme mostra um fato polêmico no relacionamento

peculiar de uma família produtora de café, o que nos induz a reflexões

sobre o contexto histórico e os costumes tradicionais daquela família. O

filme é produzido com abordagens diferentes o que causa motivação e

impacto no público. Esses diferenciais são feitos através de elementos

criativos de imagens contrastando com cenas congeladas, sequencia de

sons naturais calmos e reflexivos, sons perturbadores e uma história um

tanto provocativa, todos esses fatores promovem muitas interpretações

acerca do tema geral, provocando diferentes sentimentos em quem

assiste e fazendo‐nos imaginar o que realmente esta acontecendo e vai

acontecer ao longo da história.

Mesmo com uma boa história e uma criativa produção, é possível

perceber um salto no tempo e sem motivos claros, quando Antônio

presenteia Ana já adolescente, com a boneca que ele costurou quando ela era criança. Esse fato nos causa certa estranheza, uma vez que é obvio que uma menina prefere ganhar uma boneca para brincar em vez de uma adolescente, mas mesmo assim porque o presente foi dado quando Ana não era mais uma criança?

É curioso como a atriz que interpreta Maria não tem um bom

contato com a câmera, ela permanece a maior parte de sua encenação

sem olhar de frente, como se estivesse envergonhada, ela não mostra‐nos confiança do que está fazendo, talvez esse estilo “cabreiro” ou tímido seja características do perfil da mulher em uma família tradicional, mas neste caso, acredito que não, pois comparando com a interprete de Ana, que tem características semelhantes à Maria, afinidade e confiança não são as mesmas. O ator Francisco Oliveira e a atriz Rayanne Araújo foram felizes, se mostrando muito íntimos e expressivos com seus personagens, o que é essencial para um bom filme.

Pessoas que gostam de observar a criatividade artística, a união de

muitos elementos que estimulam novos sentimentos e diferentes

interpretações, e rumos não esperados em uma história, certamente irão gostar deste filme. Para mim, foi um prazer observar a qualidade dos novos artistas, a criatividade nos detalhes de toda produção em um filme com uma história surpreendente e com ideias diferentes e novas. Enfim, Borra de Café é um grande símbolo de arte que causa impacto para quem assiste.

Greyce Hellen Santos

Campina Grande, 08 de janeiro de 2011.

Modificado 17.02.2016

Greycensaios
Enviado por Greycensaios em 27/06/2016
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