Lupin III: o anti-herói escrachado

LUPIN III: O ANTI-HERÓI ESCRACHADO
Miguel Carqueija

Resenha do seriado “Lupin III” (ou Lupin Sansei) (Japão, 1971-1972) da Yomiuri Television, baseado no mangá de Kazuhiko Kato (pseudônimo Monket Punch) e este baseado na série literária de Arsène Lupin, criada por Maurice Leblanc (França, 1864-1941).Direção de Massaki Osumi, Hayao Miyazaki e Isao Takahata. Direção de animação: Yasuo Otsuka. Música: Takeo Yamashita. Canções: voz de Charlie Kosei.

Esta franquia japonesa, que além de mangá gerou cinco séries de tv, filmes de longa-metragem e até filme de ação viva, surpreende pelo seu sucesso e durabilidade. A idéia básica deve-se com certeza à admiração do mangaká Kazuhito Kato pelo personagem do romancista Maurice Leblanc, ou seja, Arsène Lupin, o “Ladrão de Casaca”, figura que vem a ser a antítese de Sherlock Holmes. Sabe-se que Leblanc quis colocar o célebre detetive inglês numa trama em que duelasse com Lupin. Conan Doyle negou autorização e Leblanc então escreveu “Arsène Lupin contra Herlock Sholmes”; o trocadilho ficou por demais evidente.
Lupin III é o neto de Arsène Lupin. A utilização desse personagem, a partir do mangá de 1967, sofreu problemas em razão dos direitos autorais, o que cessou em 2001, quando a obra de Leblanc caiu em domínio público.
Lupin III não é um personagem propriamente edificante e nem muito agradável, embora consiga ser engraçado. Afinal ele é um ladrão, um fora-da-lei. A série pode pois, merecer sérias restrições, visto que de certa forma faz a apologia do roubo. Entretanto, as histórias são bastante escrachadas e muito inverossímeis. O seriado original de animação, dos anos 70, é bastante tosco em matéria de visual. Mesmo assim a figura de Lupin, com seu sorriso sardônico e seu corpo esguio e ágil, é inconfundível. Cínico, auto-confiante, seguro de si, raramente se assusta ou é derrotado. A maior parte dos 23 episódios do primeiro seriado não se sustenta em termos de argumento, com muitos detalhes mal feitos. Mesmo assim diverte muito e a música que acompanha é interessante.
Lupin conta com vários auxiliares. O mais assíduo é Daijuke Jigen, um pistoleiro sinistro, que na maior parte do tempo tem o seu olhar oculto pelo chapelão. Excelente atirador, é muito fiel a Lupin mas frequentemente discorda dele, por ser mais centrado e menos temerário.
Goemon Ishikawa parece um samurai e utiliza uma espada muito cortante, feita de matéria especial. Meio calado, muito ágil, Goemon é perigosíssimo. Nos primeiros episódios ele está em campo oposto ao de Lupin, mas eles acabam se entendendo. Goemon, porém, mantem sempre as suas opiniões e até se afasta de Lupin quando julga necessário.
Fujiko Mine é uma figura original. É a mulher fatal da série: bonita, audaciosa, nada leal, tem um caso amoroso intermitente com Lupin, pois, sendo também uma ambiciosa ladra, de vez em quando passa a perna no outro. Jigen várias vezes adverte o amigo para não se envolver com Fujiko. Lupin, que tem um fraco por Fujiko, admite que não pode confiar nela, mas também não consegue odiá-la. E assim ás vezes estão juntos, outras competindo entre si.
O Inspetor Koichi Zenigata, da polícia japonesa, é uma personagem bem estruturada. Meio quadrado e constantemente enfezado, sempre de paletó, sua obsessão é prender Lupin, e até pouco se importa com os outros. Ele sabe que Lupin é o cérebro do grupo, e perde as estribeiras com a audácia do ladrão, que chega a enviar bilhetes dizendo quando e onde vai agir e o que vai roubar.No mais Zenigata é inteligente, persistente, honesto, e tem constantes desentendimentos com o chefe de polícia, sempre por causa de Lupin.
A série tem na ação constante e no humor suas melhores características.

Rio de Janeiro, 2 de julho de 2016.