Mais uma ideologia à venda

O documentário O Segredo (EUA, 2006), dirigido por Drew Heriot e baseado na obra homônima de Rhonda Byrne, tornou-se muito popular em um curto período de tempo. O livro também foi muito repercutido e alvo de diversos comentários no mundo inteiro. O motivo para tamanho alvoroço é simples: ele promete mudar sua vida. Sim, ele promete lhe contar (acho que a palavra vender seria mais justa) um segredo que foi usado por grandes personalidades do mundo, como Einstein. Isso logo se transformou em um grande atrativo para o grande público, uma vez que os humanos são, por natureza, curiosos e buscam constantemente maneiras de fugir da realidade. Não posso dizer nada sobre o livro, uma vez que não o li, mas tive a oportunidade de ver a adaptação para o cinema. Muitas pessoas que também o viram dizem que ele é muito mais que um filme. É um novo estilo de vida. É uma promessa de crescimento, ascensão. Minha sensação após ver o filme ficou longe de ser essa.

Logo quando o documentário começa, você compreende o que é o tal do “segredo”: a lei da atração. Indivíduos, desde filósofos até “visionários”, dizem que a força do pensamento é que define a vida de qualquer pessoa. Se você pensa positivo, atrai coisas positivas. Se seus pensamentos são negativos, apenas coisas ruins acontecem em sua vida. Vão além: dizem que, se você vive na miséria, a culpa é toda sua. Sua e de seus pensamentos. Vão mais além: dizem que 98% da população mundial não sabe disso e, por isso, suas vidas não são completas. Eles têm a pretensão de dizer que são os 2% realmente inteligentes do planeta Terra. Seguindo o raciocínio, pessoas realizadas são aquelas que desejam tanto alcançar tal objetivo, que conseguem. Isso é mais do que óbvio: quanto mais você quer algo, quanto mais sólido e forte for seu objetivo, mais você vai lutar para conseguir. Você acordará todos os dias e terá força para trabalhar, correr atrás daquilo que tanto almeja. Isso não é e nunca foi segredo algum.

As pessoas que depõem ficam repetindo esse discurso o filme inteiro. É mostrado também para o espectador relatos de pessoas que dizem ter a vida mudada após saber do “segredo”. Tais histórias parecem superficiais e insólitas, pois não mostram veracidade alguma nem dados que podem comprovar os fatos. Antes de ser chamada de cética, afirmo que é muito fácil qualquer pessoa falar o que bem entende sem que seja avaliada a sério. Todas essas voltas tornam o filme maçante e cansativo. Tudo o que foi dito poderia ser resumido em um curta-metragem de 15 minutos. Além disso, a filmagem deixa a desejar. Não parece, nem de longe, que esse documentário foi feito para o cinema. A qualidade da imagem é realmente precária.

O objetivo desse filme fica clarrísimo: o de vender. Vender uma nova realidade para a vida medíocre que eles pensam que 98% da população mundial tem. Oferecem também, a quem quiser ver, o culto ao egoísmo e ao materialismo, afirmando que sua vida irá melhorar se tiver tal carro, tal mansão e tal parceiro ao seu lado. Como disse um espectador crítico, Márcio Avelar, “A única Lei que me fez pensar durante o filme inteiro era se a do Direito ao Consumidor poderia ser aplicada nos cinemas”.

Gabriela Gusman
Enviado por Gabriela Gusman em 31/07/2007
Reeditado em 01/08/2007
Código do texto: T587470