Os clássicos decepcionantes

OS CLÁSSICOS DECEPCIONANTES
Miguel Carqueija

Resenha do filme grego-britânico-norte-americano “Zorba, o grego” (Zorba the greek), de 1964. Preto-e-branco, 142 minutos. Produção, direção e roteiro de Michael Cacoyannis, com base na obra de Nikos Kazantzakis. Com Anthony Quinn, Alan Bates, Irene Papas e Lila Kedrova.

De há muito reparei que existem filmes que gozam de muita fama e são muito recomendados, e que a gente ouve falar por vezes durante décadas, mas quando finalmente vai assistir sofre completa decepção.
Para mim são realmente ruins “Cantando na chuva”, “Sete noivas para sete irmãos”, “Titanic”, “ET”, “Anjo azul” e “Os doze macacos”, entre outros, aliás quase todas as produções hollywoodianas tidas como clássicos.
A co-produção “Zorba, o grego” é superestimada mas me deprimiu. A história não tem pé nem cabeça e é muito chocante, além de mal explicada. A amizade improvável entre Basil (Alan Bates) e Zorba (Anthony Quinn) até que representa uma boa ideia. A película começa bem mas logo desanda com cenas exageradas, ausência de lógica e comportamentos inexplicáveis. O linchamento da viúva, gratuito e estúpído, é uma cena lamentável, bem como o saque da casa de Bouboline, atos perpetrados por uma multidão de “cristãos”, inclusive umas velhas horrendas com ares de beatas, mas que poderiam ser chamadas de bruxas, e que fazem o sinal-da-cruz ao contrário.
Fiquei com a impressão de que o produtor, diretor e roteirista pretendeu denegrir a religião ortodoxa grega. Os personagens supostamente bons não o são tanto: Basil se acovarda diante do massacre da viúva embora ele próprio, por ter feito sexo com ela, fosse o pivô da tragédia. Zorba é um estuprador, como ele próprio admite, com a ressalva de que as mulheres por ele violentadas eram “búlgaras e turcas” (isso justifica?).
Não se fica sabendo o que o padre e a polícia acharam do assassinato. Basil e Zorba ficam chocados mas logo esquecem o “incidente”. Quando Bouboline morre Zorba explica a Basil que ela ficará sem funeral porque, sendo estrangeira e não seguindo a mesma religião (ortodoxa) o padre não mandaria enterrá-la. Mas então o que iria acontecer? O corpo apodreceria na cama? O filme não explica.
Eu realmente não aprecio essas obras pretensiosas.

Rio de Janeiro, 19 de setembro de 2017.