A noiva sinistra de Truffaut

A NOIVA SINISTRA DE TRUFFAUT
Miguel Carqueija

Resenha do filme “A noiva estava de preto”. Les Films du Carrosse, Les Artists Assocuès, França, 1967. Título original: “Le mariè était en noir”, Direção: François Truffaut. Produção: Oscar Lewenstein. Adaptação e diálogos de François Truffaut e Jean Louis Richard para o romance “The bride wore black”, de William Irish. Fotografia: Raoul Coutard. Música: Bernard Hermann. Com Jeanne Moreau, Michel Bouquet, Jeam Claude Brialy, Charles Denner, Claude Rich, Daniel Boulanger, Michel Lonsdale, Alexandra Stewart.

Suspense no estilo de Hitchcock — de quem Truffaut era assumido discípulo — “A noiva estava de preto” é uma obra curiosíssima e bem feita, mas deve ser assistida com critério. É filme sobre um sentimento anticristão: a vingança.
Jeanne Moreau interpreta Julie, que teve a sua vida destruída quando seu marido — com quem acabara de casar — foi morto à saída da igreja. Ela dedicará sua existência a localizar e vingar-se, um por um, dos cinco homens responsáveis pelo ocorrido.
A atriz, que já era uma mulher quase de meia-idade e não muito bonita, usa seus dotes para seduzir e enganar seus alvos, aproveitando cada chance. Todavia mantém quase sempre uma carranca e uma atitude antipática que, a meu ver, deveriam dificultar-lhe a tarefa. A personagem não é perversa, mas é cruel: não trepida em tornar um menino, Cookie, em órfão, depois de fingir amizade por ele. É verdade que Julie visa apenas aos culpados; tanto que ela alerta a polícia sobre a inocência da professora de Cookie, falsamente acusada do crime. Fica claro, porém, que no esquema de Julie não há lugar para o perdão.
Como filme policial tem grande originalidade, e o livro que serve de base é assinado por um dos mais conhecidos autores norte-americanos, Cornel Woolrich, também conhecido como William Irish.

Rio de janeiro, 8/18 de agosto de 2018.