O banheiro do Papa, de Cesar Charlone e Enrique Fernandes

O banheiro do Papa, de Cesar Charlone e Enrique Fernandes

Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy

Com argumento centrado na expectativa gerada pela passagem do Papa em pequeno vilarejo uruguaio (na fronteira com o Brasil), em 1988, este filme baseado em fatos reais é provocante. Filmado no Uruguai, em 2007, o enredo sugere que há em cada um de nós uma energia reprimida, sempre pronta, para soltar-se, na medida em que devidamente estimulada. Parece também que de algum modo farejamos oportunidades, cujos riscos desprezamos. Confundimos o ideal com o real. Por outro lado, há necessidade de alguma audácia, que parece ser acompanhada pela sorte. Será?

Na esperança de que a passagem do Papa (à época João Paulo II) ao pequeno vilarejo causaria um número muito grande de visitantes, toda a gente da pequena cidade investiu e se preparou para a venda de quitutes e de tudo que se possa imaginar naquele dia tão especial. Raciocinando empiricamente, o personagem principal, Beto (Cesar Troncoso), apostou tocas as fichas na construção de um banheiro, de onde o título do filme. Afinal, a concentração de gente justificava (e exigia) a construção de um banheiro. O investimento era pesado para Beto, porém o retorno era certo.

Concomitantemente, os personagens centrais vivem do transporte ilícito de mercadorias. Cenas emblemáticas denunciam a vida difícil dos muambeiros de fronteira. Oprimidos pela falta de alternativas e de oportunidades, os personagens acenam com um imenso potencial de realização, que não se desdobra, por força de um contexto que não conseguem vencer. Ao meio da tragédia uma via cômica sutil e inteligente encanta. "O banheiro do Papa" é uma experiência estética que eleva e estimula.

Arnaldo Godoy
Enviado por Arnaldo Godoy em 28/02/2020
Reeditado em 28/02/2020
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