Irreversível, de Gaspar Noé

Irreversível, de Gaspar Noé

Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy

Apavorante. Traumático. Pense bem antes de assistir. Avalie. Personagens nada descartáveis. Nada acadêmico. A narrativa vai do fim para o começo. A noção de síntese se dilui na libertação temporal do enredo. Seco. Direto. Deprimente. Sem sentido. Caótico. Retomada consciente da tradição da “nouvelle vague” e do cinema-cabeça. É um filme nada comum.

A distorção do tempo pode provocar de algum modo as sensações e ilações acima descritas, de forma irreversível, como anunciado no título desse pesado filme. A lógica do começo-meio-fim é relativizada. E nem mesmo “flash-backs” há de forma consistente. Tem-se uma linha temporal diferente, uma condução cronológica que nos fazer pensar ao avesso, se possível essa forma de raciocínio, que seria randômico e selvagem, e não domesticado e mentalmente ordenado.

Vingando a brutalidade sofrida pela esposa num túnel de Paris o personagem central, protagonizado por Vincent Cassell, vai até as mais inimagináveis consequências. A violência é a tônica do filme. A violentada é a escultural Monica Bellucci, italiana de Perugia, que foi advogada, e que depois se revelou como uma das mais sensuais atrizes europeias. A cena em que é violentada é talvez a mais brutal que vi no cinema.

O violentador é um cafetão latino-americano que provoca asco e desprezo e de ódio. A maioria dos personagens frequenta um submundo de comércio sexual e de brutalidade para com corpos e vidas. Narrativa estonteante. O conteúdo indica que não se pode dar chance para o acaso, isto é, se há lições a tirar de narrativas. Creio que as há.

O filme é dirigido pelo portenho Gaspar Noé, filho do famoso pintor também argentino Luis Felipe Noé. O marido ultrajado é Vincent Cassell, que fala português com fluência, e que protagonizou “A Deriva”, dirigido pelo pernambucano Heitor Dhalia. Cassell viveu no Rio de Janeiro. Cassell está também em “O Cisne Negro”.

“Irreversível” é de 2002 e permanece impressionando. Creio que há dificuldade em se definir de que gênero se trata. É cinema de arte. É drama. É suspense. E é terror. Principalmente.

Arnaldo Godoy
Enviado por Arnaldo Godoy em 18/03/2020
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