A noiva síria, de Eran Rikis

A noiva síria, de Eran Rikis

Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy

Nas Colinas de Golã, entre Israel e Síria, um inusitado casamento se realiza. Por causa da ocupação israelense, noivo e noiva estavam separados pela fronteira. Um limite traçado por uma linha imaginária. A noiva, Mona, está na região ocupada por Israel. O noivo vive na Síria, e é um astro da televisão; e são primos. A família da noiva é proativa na defesa da identidade síria.

Do ponto de vista cultural e religioso os personagens são drusos. Muito menos do que um esperado romance piegas o enredo revela-se riquíssimo em conflitos. O pai da noiva é militante político e vive em liberdade condicional. A irmã da noiva luta contra o marido, postulando o direito de cursar uma universidade, especialmente depois que as filhas já estavam moças. Um dos irmãos da noiva peleja para ser aceito pelo pai; deixara a família e casara-se com uma médica russa. O outro irmão era um enigmático homem de negócios, galanteador, e que teria um caso com uma agente da ONU.

Disputas entre Síria e Israel marcam a esperada passagem da noiva pela fronteira; e também não poderia voltar. O filme é uma bem engendrada denúncia contra a irracionalidade da burocracia. Embora de modo mais aberto e menos emblemático, a obra tem certa matriz kafkaniana. O diretor Eran Riklis imprime sentido cosmopolita em seu trabalho; estudou cinema no Reino Unido. Hiam Abass, no papel da irmã da noiva, é sublime. Hiam é de origem palestina, nasceu em Nazaré; os caracteres que desempenha têm personalidade muito forte.

“A noiva síria” é mais um exemplo da força do cinema do oriente médio contemporâneo. As narrativas são carregadas de forte militância política, em permanente denúncia ao impasse e à irracionalidade de soluções que o ocidente vem forçando na região, especialmente no contexto do capitalismo concorrencial, que se expande a partir da segunda metade do século XIX. Questões incompreensíveis para o observador ocidental comprovam os avisos de Edward Said, intelectual palestino, para quem o oriente é uma invenção cultural do ocidente.

Arnaldo Godoy
Enviado por Arnaldo Godoy em 13/04/2020
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