Heartstopper (série Netflix; graphic novel de Alice Oseman)

[Contém spoiler. Só um pouquinho...]

Poderíamos dizer que a série é para adolescentes, sobre dois adolescentes que começam a descobrir sua sexualidade – apenas o despertar, apenas o "gostar", aquela coisa gostosa de querer bem, de querer estar junto...

A história se passa na Inglaterra, o principal cenário é a escola só para meninos - meninos e meninas estudam separados. Quando se encontram, vemos um grupo heterogêneo - altos, baixos, morenos, louros, negros, brancos... E vamos conhecendo pouco a pouco as características de cada personagem, protagonistas e periféricos. Já sabemos que um garoto é gay. E o outro, o que será? Ele também vai descobrir, e vamos acompanhar, com leveza, de pertinho, essa descoberta.

Chama muito a atenção essa delicadeza, o cuidado que os amigos mais próximos têm uns com outros sobre o que falar, como falar, procurando a melhor palavra, o melhor gesto para não magoar. Chama a atenção o carinho e apoio dos pais e outros familiares. Não estamos acostumados com isso, não é mesmo? Há, claro, personagens rudes, grosseiros, preconceituosos, mas eles e suas cenas estão em segundo plano ou mesmo terceiro plano – não é esse o foco. O foco é, de fato, o despertar para o amor. E é isso que nos pega: faz tanto tempo que não vemos isso nas obras por aí, não é mesmo?

Geralmente, temas como esse, ou até em outros temas diferentes desse, botam em close o sofrimento, situações grotescas que nos fazem odiar os odiadores e nos compadecer dos mais frágeis...

Em Heartstopper, o ódio não tem muita vez não – ele existe e está ali, mas ninguém bota fermento. Vemos a fragilidade dos agressores, vemos e nos reconhecemos em suas atitudes bobas e cruéis, muitas vezes repetindo preconceitos sem nunca nem termos pensado muito sobre eles. E temos a oportunidade de nos redimir - quem nunca foi preconceituoso, nem que seja só em pensamento? Será q esse pensamento era "nosso" mesmo? Ou só estamos repetindo atos inventados por outros?

E vemos naqueles que já foram alvo de bullying força! Sem maquiagem nem pirotecnia: é viver, um dia de cada vez; se apaixonar pela pessoa errada, sofrer, se recolher, se apaixonar de novo, duvidar que também é amado, descobrir, sentir-se vivo, construir-se a cada dia...

Heartstopper é sobre amor, da forma mais delicada possível.

Após assistir à temporada disponível na Netflix, sentia a leveza desse amor na minha alma e acabei comprando os três volumes para ler em seguida. Sempre tive a certeza de que a obra escrita é melhor que a versão cinematográfica, mas a série é tão bem-feita que tive um pouco de medo de me decepcionar com os livros... E tive uma grata surpresa de que não são nem melhores nem piores, mas tão bons quanto, de uma forma diferente: quando comprei, não sabia que a história era contada em HQ - que deliciosa surpresa!! E toda delicadeza está ali também, em cada traço e letra da talentosa Alice Oseman, que nos ensina que o ódio é comum, mas amar é o normal.

Li e apreciei cada volume como o grande mestre Wisnik cita: de uma "bundada" só! Pois, uma vez com o livro em mãos, é difícil largar! E é difícil, também, não se apaixonar, não se sentir inspirado a mudar ações e viver no bem!

Então, Heartstopper é uma série/obra para jovens, para adolescentes, para esse jovem e adolescente que está dentro de você, cheio de curiosidade, aberto para o mundo, para novos conhecimentos sobre os outros e sobre si, aberto para descobrir a delicadeza e a beleza de cada pessoa.

Sal Maciel
Enviado por Sal Maciel em 27/06/2022
Reeditado em 28/06/2022
Código do texto: T7547352
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