O bom, o mau e o feio

O BOM, O MAU E O FEIO

Miguel Carqueija

 

Resenha do filme de faroeste “O bom, o mau e o feio” (ou “Três homens em conflito”). Itália, Produzione Europee Associati, Arturo González Produciones Cinematográficas, Constantin Film. United Artists, 1966. Direção: Sergio Leone. Produção: Alberto Grimaldi. Roteiro: Age & Scarpelli, Luciano Vincenzoni, Sergio Leone e Sergio Donati. Argumento: Luciano Vincenzoni e Sergio Leone. Música: Ennio Morricone. Fotografia: Tonino Delli Colli. Título em italiano: “Il buono, il brutto, il cattivo”. Título em inglês: “”The good, the bad and the ugly”.

Elenco:

Clint Eastwood...........................o Homem sem Nome

Eli Wallach..................................Tuco

Lee Van Cleef..............................Angel Eyes

Rada Rassimov............................Maria

Aldo Giuffré.................................Capitão Clinton

Mario Brega.................................Cabo Wallace

Luigi Pistilli...................................Padre Pablo

Antonio Casas..............................Bill Carson

Al Mulock.....................................Elam

Antonio Molino Rojo....................Capitão Harper

 

O chamado “spaguetti-western”, ou faroeste italiano, na realidade em muitas co-produções com outros países, inclusive Estados Unidos (este aqui é produção com EUA, Alemanha e Espanha, rodado neste último país), surgiu nos anos 60 e era em geral menosprezado, embora seja visto também como uma “desmistificação” do “western” clássico de Hollywood. Em vez de heróis, anti-heróis de aspecto sujo e desmazelado, barbas por fazer, capotes, um visual bem contrastante, por exemplo, com os filmes de Roy Rogers.

“O bom, o mau e o feio”, com seu título bizarro, é hoje visto como um clássico. Gira em torno da ganância exacerbada do ser humano, capaz de matar e trair por dinheiro, por bens efêmeros, pois afinal todo mundo morre, inclusive quem mata os outros.

O título colocado no Brasil, “Três homens em conflito”, sintetiza a situação emblemática. Há um certo clima de humor, com os epítetos do trio central aparecendo em tela, duas vezes, mostrando o bom — o Homem sem nome (Clint Eastwood), que nem é tão bom assim, embora mais ético que os outros dois — o mau (Lee Van Cleef), apelidado “Olhos de Anjo”, um matador de aluguel, perverso e inescrupuloso, e o feio (Eli Wallach), chamado Tuco, um pistoleiro vigarista acostumado a realizar alguns golpes junto com Blondie, ou Lourinho — como ele chamava ao Pistoleiro sem nome.

Tirando fora Tuco, cuja origem humilde e sofrida é revelada, os outros dois têm origem misteriosa. No fim os três disputarão o dinheirama deixado por um bandido que antes de morrer enterrou-o num cemitério, em meio à confusão da Guerra Civil Americana.

A supervisão do conhecido produtor italiano Alberto Grimaldi e a direção de Sergio Leone parece que combinaram bem, mas no fim das contas o forte de “The good, the bad and the ugly” é a música assobiada e sinistra de Ennio Morricone, uma lenda entre os compositores do cinema e que compôs para vários faroestes italianos.

Embora reconheça a qualidade da película e seu enredo sagaz, eu não consigo gostar da maneira cruel como o mundo é mostrado nessa ótica onde o que manda, afinal, é o dinheiro, pelo qual os homens matam e morrem e praticam a arte da vingança.

Talvez o melhor do elenco seja o esquelético Lee Van Cleef, que faz uma convincente máscara de homem inescrupuloso, ganancioso.

A cena-clímax é o chamado “impasse mexicano”, expressão que eu não conhecia antes de ler o comentário da Wikipedia. Em pleno cemitério, Tuco, Olhos de Anjo e o Homem sem nome disputam a posse do tesouro. O impasse é mostrado com grande tensão, cada qual posicionado, imóvel, rostos vistos em sucessivos “closes” até que resolvem atirar.

Eu conheço o tema musical, que tocava na rádio desde os anos 60; o filme mesmo só agora pude ver em DVD.

Quanto a Clint Eastwood, é norte-americano e não italiano.

 

Rio de Janeiro, 28 de julho de 2022.