Filme “Oblivion” – o poder do não esquecer

O filme “Oblivion” (EUA, 2013, direção de Joseph Kosinski, com Tom Cruise, Olga Kurylenko e Morgan Freeman) é uma daquelas ficções que consegue transpor para o futuro questões candentes da atualidade. E vice-versa.

A começar da questão relacionada ao título: oblivion, palavra inglesa, tem sua pouco utilizada correspondente em português, oblívio, quer dizer, esquecimento. Num mundo apocalíptico pós invasão de alienígenas, os terráqueos remanescentes lutam contra os invasores mantendo disciplinadas patrulhas que controlam tudo que se passa num planeta arrasado após a guerra de conquista. As patrulhas são formadas por casais de técnicos que tiveram suas memórias apagadas, supostamente para evitar elas sejam raptadas. Eles vivem em plataformas acima das nuvens, uma metáfora dos habitantes dos luxuosos condomínios verticais atuais, que afastam seus moradores do distópico submundo na superfície.

O casal de técnicos, uma dupla com funções bem definidas, é recrutado para missões com períodos de alguns anos, após os quais retornam para a base de comando humana, situada em Titã, satélite de Saturno. Entretanto, Jack, o protagonista do filme, dedicado às ações de reparo dos drones que combatem os alienígenas, sofre com reminiscências de memórias e sonhos que lhe parecem inexplicáveis. Curioso e inconformado, ele é o contraponto de sua companheira, Viki, que não tolera dúvidas e tem como prioridade o retorno a Titã após o final bem sucedido da missão. Mas o transcorrer da trama vai revelar o que são as reminiscências de Jack: laivos da indelével lembrança gravada no mais íntimo do subconsciente, capaz de resgatar os humanos de uma surpreendente realidade de esquecimento e de extravio.

É impressionante a razão que o filme coloca para a invasão da Terra pelos saqueadores alienígenas. E a suposta razão da manutenção por aqui dos drones e das missões de técnicos: eles mineraram a água do mar, enviada para a produção de energia em Titã. A ficção revela-nos a essencialidade do bem que ainda não aprendemos a respeitar e proteger na realidade de hoje. Basta ver como resulta uma praia de uma cidade litorânea de veraneio após as festas de final de ano. Impressiona a quantidade de lixo e detritos que escancaram nossa incúria com o oceano, que é a fonte e a manutenção da vida no nosso planeta.

Outra imagem impressionante do filme: a Lua destroçada em múltiplos fragmentos aparecendo no céu azul. Os alienígenas, visando destruir nossa civilização mas sem comprometer o planeta e os recursos que pretendiam saquear, destroem nosso satélite. Com o transtorno das marés, das correntes oceânicas e atmosféricas, bem como outros ciclos de origem astronômica lunar, a humanidade teria se desorientado e se arruinado, facilitando a ação dos invasores.

A interação entre terráqueos e alienígenas suscita ainda uma reflexão capital: sobre criação, criador e criatura. A questão de diferentes conceitos de criador é apresentada de maneira original e sutel, de certa forma chocante. Faz-nos pensar sobre nossos próprios conceitos.

O filme é muito mais que os aspectos mencionados acima. Cheio de inesperadas revelações, e de detalhes que nos relembram negligenciadas preciosidades da espécie humana, que corremos o risco de subestimar ou olvidar. Não é possível aprofundar a descrição destes detalhes sem incorrer em inoportunas revelações. Por isso, quem não viu o filme, espero que estas poucas provocações animem a vê-lo. Vale a pena!