O Filme “O LAGOSTA” e os AMORES LÍQUIDOS.

Interrompemos a programação sobre política neste espaço para voltar a falar sobre o que mais gosto: filmes. Dessa vez, vou falar sobre o filme "O Lagosta", que pode ser visto no Netflix, do diretor grego Yorgos Lanthimos. Esse diretor está causando verdadeiro rebuliço no mundo cinematográfico com seu mais novo filme, "Pobres Criaturas", que ainda não tive a oportunidade de ver.

 

Por causa dessa fama e também por indicação de Gabriel Costa e Silva aqui do recanto, fui procurar "O Lagosta" para assistir, filme de 2015. É incrível como um filme desse período, no qual eu era muito ativo nos cinemas, tenha passado despercebido pelo meu radar. "O Lagosta" é uma bela surpresa do cinema, com um enredo original e um tanto excêntrico, que poderia muito bem ter sido inspirado em um livro.

 

A história narra, em um futuro não tão distante do nosso, as pessoas são impedidas de serem solteiras. Quem estiver sozinho é levado para um hotel no qual terá 45 dias para arrumar um parceiro. Caso não consiga, será transformado em um animal de sua preferência. Nosso protagonista, após a perda da mulher, é levado para este hotel e escolhe a lagosta como seu animal de predileção para ser transformado.

 

No hotel, ele tem que deixar seus pertences e vestir apenas o que o hotel fornece, procedimento que vale tanto para mulheres quanto para homens. Começa, então, a busca implacável por um parceiro, através de interesses comuns, um "Tinder selvagem", visando não ser transformado em um animal. Como é de se presumir, muitos acabam mentindo para arrumar uma parceira e evitar o trágico desfecho.

 

No hotel, é proibida a masturbação, ficando a cargo das funcionárias a masturbação dos hóspedes. Nosso protagonista visa uma pretendente que é uma pessoa sem sentimentos e sem empatia pelos outros. Ele tenta se mostrar igual a ela para cativá-la, e tem sucesso.
 

Quando algum solteiro arruma alguém, é levado para um quarto maior e depois para um iate nupcial, tudo visando a união do casal. Se o casal se desentende, é proporcionada uma criança para evitar as discussões, como na vida real, onde as crianças são utilizadas para dar sentido ao casamento quando o amor inexiste.

 

A atividade dos internos do hotel é caçar com dardos tranquilizantes solitários foragidos. A lagosta e sua nova parceira estavam se dando bem em sua nova vida de casal, até que a mulher desconfia da autenticidade dos sentimentos de seu parceiro, e a pretendente da lagosta assassina o irmão dele, que fora transformado em cachorro.

 

A lagosta não consegue mais fingir o estoicismo diante dela e começa a chorar a morte do irmão. Sua parceira resolve levá-lo para a gerência do hotel, para que seja imediatamente transformado em um animal. Com a ajuda de uma funcionária do hotel, ele escapa da sua parceira e a atinge com um dardo tranquilizante. Para se vingar pela morte do irmão, decide transformá-la em um animal com suas próprias mãos.

 

A lagosta foge do hotel e vai viver na floresta. Lá, conhece uma tribo de solitários, cuja líder permite que ele fique com eles, desde que respeite as regras de permanecer solitário. Não demora muito para se apaixonar por uma das integrantes da tribo dos solitários. Fazem planos de fugirem juntos e morar na cidade como casal, apesar das proibições da líder. Mesmo com empecilhos, o lagosta bola um plano e consegue fugir da tribo com sua parceira.

 

No final do filme, o lagosta pede para ver cada detalhe do corpo de sua parceira, pois decide se auto cegar para ficar parecido com ela. O filme é uma crítica clara aos amores líquidos da atualidade e à sociedade que parece considerar ser solteiro um crime. As pessoas muitas vezes acabam com alguém que sequer amam, casando apenas por interesse em perpetuar sua posição social.

 

No filme, há uma cena marcante em que a tribo dos solitários invade o hotel tudo para colocar os gerentes em uma posição que fique clara que eles não amam seus parceiros. Como dizer para o gerente dar uma nota para sua mulher em termos de amor. Ele dá nota 14 em 15, mas quando a líder da tribo diz que irá matar um dos dois, ele não hesita em dizer que deve matar ela, porque ele é mais apto para sobreviver e até mesmo se oferece para dar o tiro fatal. Felizmente, tudo não passou de mera encenação para desmascará-los. Mas a cena evidencia como é muito dos amores da atualidade. Em vez de você dar a vida por quem se ama, você não hesita em tirá-la de uma pessoa que se casou por interesse. Muito diferente do caso do lagosta que, quando encontrou sua parceira ideal, quis ficar com ela mesmo sabendo da deficiência visual dela e até quis ficar cego também, tudo para ficar mais parecido com ela.

 

O recado do filme é que é legítimo ficar solteiro desde que isso te faça feliz e não tenha encontrado a pessoa certa.

 

Muito diferente da postura de quem se casa apenas por interesse ou por obrigação social, como era o caso daqueles hóspedes do hotel que queriam arrumar um parceiro apenas para não serem transformados em animais.

Dave Le Dave II
Enviado por Dave Le Dave II em 03/03/2024
Reeditado em 03/03/2024
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