SOB A NÉVOA DA GUERRA, de Errol Morris

SOB A NÉVOA DA GUERRA, de Errol Morris

Robert McNamara, uma das mais importantes figuras norte-americanas no mundo moderno , relembra passagens da sua vida, dentro e fora do governo, muito bem acompanhadas de um roteiro com suas 11 máximas estratégicas.

O livro The fog of war: eleven lessons of Robert McNamara,EUA/2003, se não é um sucesso de vendas, o é em transmissão de alertas. Principalmente a quem ocupa os cargos no mais alto nível de governo.

De início surge o universo de onde os norte-americanos selecionam seus homens para a máquina governamental: nas suas melhores faculdades/universidades, capitães destacados de indústrias e por aí vai. Ou seja, valorizam o estudo e o preparo individual ao mesmo tempo que prestigiam suas escolas mais importantes. Não que isso os exima de erros históricos por terem, os americanos mais bem dotados intelectualmente e fortes na competição, que os americanos tanto prezam, conduzido o país a determinados patamares.

Convivendo com as mais graves crises da década 60/70, e de dentro da máquina governamental, McNamara relata os bastidores de uma forma muito peculiar e muito ao estilo americano, ou seja, reconhecendo os erros e procurando aprender com eles. Aliás, esta uma de suas máximas, mas que na realidade, nos aponta a Bismarck.

Vivia-se a época da Guerra Fria , que demarcou de forma muito forte o séc XX com embates armados ou não, nos quais, as superpotências político-militares , se utilizavam dos seus “satélites”, pra atuar. Não eram guerras ou conflitos declarados, mas sabia-se que um lado estava totalmente apoiado por uma das superpotências. A diplomacia e os serviços secretos portavam-se e atuavam como se estivesse ocorrendo ou na eminência de uma verdadeira guerra. O mundo ainda pouco sabe do que acontecia nos bastidores dos governos envolvidos.

McNamara trouxe á tona alguns fatos e decisões eivadas de conceitos calcados nas principais escolas estratégicas, com destaque para SunTzu e Clausewitz, este principalmente, pois é parte integrante da mentalidade da estratégica americana- mentalidade guerreira que se faz presente inteira no filme.

Embora a intenção fosse clara do governo americano- a de evitar a guerra- os acontecimentos, naquele período, literalmente trituraram o pensamento do Secretário de Defesa. A lógica da guerra foge á lógica dos fatos comuns tal a magnitude das causas que a envolvem. Sim, pode-se dizer causas, pois aspectos que aparentemente nada tem a ver com o principal, rapidamente assumem proporções assustadoras e incontroláveis. O ex- Secretário de Defesa da nação mais poderosa da Terra apresenta uma das suas máximas nessa direção: a busca da empatia com o inimigo. Justamente a isso se referiu o diretor do filme ao receber o Oscar na sua categoria: um dos líderes da guerrilha pós-ocupação americana no Iraque argumentou que não só lutam contra os americanos mas contra todos que não desejam a independência do Iraque. Nada mais do que uma repetição da expressão de um líder vietnamita muitos anos atrás. Trocando em miúdos, a lição do Vietnam foi assimilada mas não aplicada.

Com as 11 lições de estratégia, McNamara também nos coloca ao par da escolha e do preparo dos dirigentes para os cargos de mais alto nível da nação e sua situação após os fatos : se os mais bem preparados e melhor dotados intelectualmente erram, o que será da nação comandada por mal preparados e pouco dotados?

Pode-se identificar, e muito bem , a responsabilidade do civil McNamara com todos os ditames do poderosa máquina de guerra americana e com os interesses do país.

Mais do que as máximas estratégicas nos aponta na direção da irracionalidade da guerra e sua capacidade de sobreviver a lógica que a causou e conduz. É aí que reside a maior lição para os políticos.

FLAVIO MARTINS PINTO