JORNALISMO SITIADO

No Dvd jornalismo sitiado os jornalistas Eugênio Bucci e Sidnei basile

expõem suas análises sobre o tema Imprensa, mercado e democracia, desde o processo de consolidação e influência da imprensa até o panorama atual, como também os paradigmas e as possíveis soluções para os problemas que cercam a prática jornalística no mundo globalizado.

O jornalista Eugênio Bucci questiona se o papel da imprensa de abastecer o cidadão de informações e dados está sendo cumprido, para que esses cidadãos possam tirar suas conclusões e formar opiniões de forma autônoma, já que a imprensa deve ser aquela que carrega esses dados até a sociedade. O que acontece, muitas vezes, é que determinados veículos de comunicação já possuem uma opinião formada e dão ênfase a ela. Por isso, é sempre importante buscar novas fontes.

A partir desse questionamento ele formula quatro fatores que sitiam, “estrangulam” o Jornalismo:

- Intolerância à divergência;

- Tirania da Imagem;

- Espetacularização da notícia;

- Conglomerados: entretenimento, telecomunicações e também jornalismo;

Em relação ao primeiro fator, ressaltou a importância da discussão sobre a imprensa. De acordo com Eugênio isso fortalece a liberdade de imprensa, discutir em público os problemas de confecção do conteúdo editorial, as falhas desse processo deixam ainda mais sólido os veículos de comunicação. “O jornalismo tem a obrigação de ser livre, se ele é bom ou ruim é secundário”, o que posso concluir dessa afirmação não é no sentido pejorativo da coisa, por exemplo, quando um cidadão acredita que tal veículo “passou dos limites”, aí se manifesta a intolerância. Erros de imprensa ou excessos cometidos só serão superados e melhorados se forem compreendidos primeiramente e depois discutidos em público dentro da própria imprensa.

A tirania da imagem embute uma forma de apreensão das idéias própria da linguagem, dos símbolos, não no sentido semiótico, mas ela apela às emoções. Uma situação para ser considerada verdadeira precisa ser mostrada fotograficamente. E a apropriação da imagem além de ser hegemônica, pode ser utilizada em vários níveis. As imagens estão longe de ser o registro da verdade. Temos que levar em consideração enfoque, o ângulo, o recorte que o fotógrafo faz da situação, assim como os jornalistas tem que escolher a melhor versão de uma matéria ao escrevêl-la. E essa sociedade imagética faz com que o campo do discurso racional do jornalismo se enfraqueça, além de gerar a exposição excessiva, em certos casos, ocasionando a espetacularização na notícia, impulsionando a prática do sensacionalismo.

Na verdade, a espetacularização da notícia já virou um modo de produção pela imagem, pautado por diversos meios de comunicação, e o jornalismo vem se adaptando a essa fase do capitalismo, onde a concorrência dos meios é massiva, havendo a necessidade de conquista do público, seja da classe A ou D. É um modo de produção que fabrica e se abastece de imagens, a mercadoria circulando mais do que como produto do que como signo. A imagem projeta o valor da mercadoria e ao mesmo tempo sustenta a realização do valor da mercadoria, e essa é uma questão que nós temos que lidar não só na prática jornalística, já que com o advento da indústria cultural, e também da indústria da consciência, que seria o estágio mais avançado da indústria cultural, segundo Habermas, a mercantilização das formas simbólicas, de uma forma geral, estão em todo o processo de difusão de conhecimento, cultura, etc. E um impasse, nesse sentido, é que os problemas contemporâneos muitas vezes se tornam polêmicos não por meio de peças jornalísticas, mas por novelas e filmes, havendo um choque entre a realidade e a ficção, que confunde o cidadão e faz com que ele acabe buscando fundamentos no entretenimento.

Outro ponto interessante é a questão do direito à informação, que nem sempre é prioridade em algumas empresas devido a ela estar vinculada a outros interesses, como a política, e não ser uma empresa jornalística pura, e daí surge os conglomerados, onde estão inclusas empresas de entretenimento, telecomunicações e também o jornalismo. Essas empresas se dedicam a diversos negócios e se fortalecem nas relações de poder. E daí também surge a questão: Será que o jornalismo pode ser independente do Estado, do governo, e mais especificamente ainda, da empresa a qual ele pertence?

E qual seria o ideal que inspira o jornalismo?

É o discurso que se destina ao atendimento do direito à informação. Pra responder essa pergunta Eugênio remontou a história do século XVIII e relembrou as influências da teoria Evolucionista e do Iluminismo, período em que houve um reordenamento em vários aspectos da sociedade na Europa, mais especificamente na França, com a Revolução Francesa. Também conhecido como o século das Luzes, o século XVIII foi um período bastante fértil para a difusão de idéias, que nesta época já poderiam ser repassadas em larga escala, devido a prensa de Gutemberg, a idéia de racionalismo, o aumento do número de pessoas alfabetizadas, que poderiam discutir, debater essas idéias que passam a ser consideradas em ordem pública.

Ao longo do século XVIII houve uma explosão do mercado editorial e os livros se multiplicavam, na Paris revolucionária haviam centenas de jornais. É nessa espoca que surge a esfera pública burguesa, de acordo com Habermas, e os jornais eram pórticos de entrada de grandes interesses privados na esfera pública, porque por esses jornais se disputava iria se constituir como opinião pública. E esse conceito de opinião pública por muito tempo se configurou como um mito inabalável de imprensa.(naq opinião pública aparece a vontade do cidadão, essa vontade que tem seus canais de circulação n os veículos de imprensa).

“A idéia de jornalismo nasce vinculada a idéia de democracia”. O discurso do jornalismo deve se destinar para atender o direito à informação. Já que este nasceu sob a influência de grandes filósofos, com o intuito de levar luzes, razão e formação de pessoas, já que para delegar poderes o cidadão tem o direito de conhecer e debater, pois sem isso não se configura uma democracia.

A imprensa na era do conhecimento compartilhado

A definição de imprensa desmontou-se com a convergência tecnológica: internet, telecomunicações, originando uma nova dinâmica onde o conhecimento é originado de maneira compartilhada. Há pouco tempo atrás eram os gatekeepers da sociedade que filtravam, decidiam que nóticias que iam pro ar, eles eram “levantadores de cancela da sociedade”. Com a fragmentação das mídias, o processo de distribuição e formação de conhecimento e informações é produzido em larga escala, por diversos veículos, e com isso acaba ocorrendo a desintermediação da imprensa nesse processo, e a função clássica desta desaparece.

Em ocorrência disso algumas adaptações precisam ser feitas. O mercado editorial não pode ser isolado, é bom considerarmos nesse contexto o conceito de “aldeia global”, inclusive “especialistas afirmam que dentro de poucos anos não terá um açougue que não tenha site”, afirma Sidnei.

O que acontece também é que esse processo de difusão de informações está se tornando mais dinâmico, acessível e está evoluindo, por exemplo: a informação agora vem junto com a produção e distribuição de bens de consumo, ocorrendo um “dilúvio informativo”, onde todos tem acesso a tudo, literalmente, E Sidnei defende que está havendo na atualidade uma “Revolução Copernicana” no universo da informação, pois os jornalistas que giram em torno do público, e não o contrário. E uma saída para essa questão, acredita Sidnei, seria voltar aos princípios jornalísticos básicos: Ouvir as partes; Assegurar o direito de defesa pública; Cumprir o contraditório; Não misturar opinião com notícia, pra que, dessa forma, o próprio leitor tire suas conclusões.

Soane Guerreiro
Enviado por Soane Guerreiro em 17/05/2008
Reeditado em 28/11/2008
Código do texto: T992972