Análise da novela Campos Gerais (Miguilim), de João Guimarães Rosa

O livro de Guimarães Rosa - Miguilim - contrasta um ambiente pobre num mundo rico - Minas Gerais ou como está no título da novela Campos Gerais. A cidade predominantemente rural e pequena, Mutum é o cenário de toda a história do Miguilim, que é uma pessoa que está lutando para chegar aos seus objetivos.

O autor traça uma história em que uma família simples vive seu dia-a-dia como muitas famílias rurais que ainda existem no Brasil. Guimarães Rosa faz uma imersão neste mundo trazendo a linguagem simples, típica da região com seus costumes e tradições, das pessoas do campo.

Para mim a cidade Mutum é uma crítica social, pois é uma região como várias pelo Brasil, é uma região abandonada pelo poder público onde quem sobrou, isto é, quem vive lá tem que se virar para ter uma vida melhor.

Um exemplo de que Guimarães Rosa cita a cultura da roça é quando o pai do Miguilim sai da fazenda para caminhar pelo mato com seus cachorros para caçar o coelho. Os cachorros são os auxílios da defesa do pai do Miguilim.

A obra tenta captar o cotidiano de um personagem que batalha, pensando que está vivendo em um mundo alternativo, diferente, sonha alto, mas que com ajuda dos outros, primeiramente com o Tio Terêz e depois com o irmão Dito, o Miguilim constrói a sua formação de visão do mundo, onde ele se esfoça e tem um reconhecimento de todos.

Apesar de suas fraquezas, seu aspecto raquítico ele tentou batalhar para conquistar o respeito do pai, que é um sujeito sofrido da vida e acha que todos os filhos tinham que passar o mesmo para se tornar homem de fato.

Miguilim pertence a uma família pobre, simples da roça brasileira em que a família funciona com um sistema patriarcal, isto é o pai é o chefe da família, Nhô Bernardo.

Ele é um pai autoritário que não dá muita atenção para o filho mais novo, o próprio Miguilim, a mãe Nhanina, que é uma submissa ao marido e que passa dias de tristeza numa região vazia e abandonada, acreditando numa vida melhor. A única pessoa com quem respeitava era a Vovó Izidra - a moralista da família.

Tem o Tio Terêz, que no começo era visto por Miguilim como um amigo, que no decorrer da história ele não é visto mais da mesma forma após a morte do pai, porque com o passar da novela, Miguilim desconfia que o Tio Terêz está traindo o pai com a mãe. Tem o braço direito do Miguilim, Dito, que sempre vai dar apoio em todos os momentos, até a morte. Durante a doença de Miguilim, o irmão ajudou na recuperação do protagonista da história com a energia da alegria. Dito é destacado como uma parte importante da novela. Pelo pai, ele é visto como sucessor da liderança da família pela ajuda na roça e por ter amadurecido rapidamente.

Dito ensina o pequeno Miguilim a viver a vida, aplica valores para o amadurecimento do jovem garoto. Apesar da história estar centrada ao redor do Miguilim, Quando Dito estava doente, a família tenta salvar a vida dele por meio de rituais e outros meios demonstrando que o Dito era uma esperança para o desenvolvimento da pequena comunidade.

Na história há vários casos de desrespeito à autoridade e também a repressão da autoridade como o caso que o Pai está batendo na mãe Nhanina por causa do Tio Terêz, em que o suspeita da traição, e o inocente Miguilim tenta defender a mãe entrando no meio da briga em que acaba apanhando.

O ápice da história, quando o Dito morre, Miguilim se sente desprotegido, pois o irmão era um conselheiro para enfrentar os desafios que a vida oferece. O Dito atua como a razão e utiliza o logos que é um conceito filosófico traduzido como razão, tanto como a capacidade de racionalização individual ou como um princípio cósmico da Ordem e da Beleza. Isto é, Miguilim só tomava alguma atitude quando o Dito estava certo e até tentava imitar o irmão, quando ficou doente. O Miguilim era a ação e o Dito a razão, o pensamento.

Além disso, o autor tenta traçar os grupos sociais que vivem em Mutum, como os “vaqueiros”, que ensinam o Dito e Miguilim os conhecimentos sobre a criação de gado, como tirar leite, sarar uma “pisadura” ou então o grupo das “mulheres da cozinha” que citam o dia-a-dia da vida da Rosa, que está limpando as tripas do porco para cozinhar e é incubida as tarefas que tem maior iniciativa e capacidade de cálculo , a Nhanina, que está fazendo sobremesas, Mãitina, uma “negra fugida”, que pode ser até uma referência de escrava, ou sofrida pela vida, que faz os trabalhos mais pesados e que está desapontada por não ter reconhecimento e ainda é maltratada pela Vovó Izidra que a trata como uma “traste de negra pagã”. Tem também a Maria Pretinha que é a auxiliar da Rosa.

Outro ponto forte, que é quando o pai de Miguilim se mata, acontece uma “renovação do poder”, pois quando Nhô Bernardo é substituído pelo Tio Terêz., que tem interesse em se casar com o Nhanina.

Miguilim que era muito dependente para a mãe acaba conquistando sua ‘liberdade” quando um sujeito vem da cidade e dá os óculos para ele pois a grade dificuldade que carregou na história de dele era um problema de visão que criava outras visões outros mundos na personagem.

Os personagens como o Miguilim e Dito tem uma ligação muito forte e destaca a forte relação que os dois tinham de confiança num ambiente em que o pai é uma pessoa ignorante de conhecimento acadêmico, mas sábio com o conhecimento da vida, apesar da violência e da dureza, o pai mostrou seu lado frágil em dois momentos: quando o Miguilim quase morreu e quando o Dito morre.

Pois o pai fica desesperado com a enfermidade do irmão mais velho, a esperança da família para uma vida melhor e o Miguilim em que o pai fica arrependido porque se acha culpado pela doença de Miguilim, que se esforçou demais ao tentar fazer o mesmo trabalho que o irmão fazia. Para mim, a novela identifica muito a comunidades que estão espalhadas por este País, que tem seus laços sociais, familiares, com seus conflitos e rituais.

No final da história, com a “liberdade” conquistada, isto é, os óculos, Miguilim é convidado pelo sujeito que deu a possibilidade de corrigir a visão para viver na cidade, estudar, aprender um ofício e não depender mais da mãe como dependia.

Apesar de todo o sofrimento, a personagem Miguilim sofreu, batalhou, enfrentou desafios e teve uma vitória na vida, conseguindo enxergar e ter a possibilidade de estudar e ser independente para quem sabe um dia voltar a Mutum e ajudar sua família.

Cido Coelho
Enviado por Cido Coelho em 09/06/2008
Código do texto: T1025822
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