Paulo Coelho e o Zahir

Nunca fui o que se pode chamar de um “fã” de Paulo Coelho, apesar de admirar sua figura pública (através das poucas e brilhantes entrevistas que dele assisti) e sua trajetória ímpar nas Letras Brasileiras.

Falar de Paulo Coelho no Brasil, porém, parece (ainda) um tabu. Lê-lo, então, se você não for aquele típico leitor de “best-sellers” e/ou livros de auto-ajuda, então, pode ser considerado por muitos um pecado mortal.

Que qualquer um acaba cometendo, obviamente. Seus “maktub” estiveram lá, nos jornais, por mais tempo que podemos lembrar. Sua coluna dominical n’O Globo, idem. Você acaba sendo atraído por uma palavra ou outra, pára em uma frase e quando vê, leu tudo.

Não que eu não tenha lido seus livros. “Diário de um Mago”, “O Alquimista”, “As Valquírias”... coisas do seu início de carreira – se é que se pode chamar assim sua estréia estrondosamente cheia de sucesso. É claro que os li, leio de tudo. E gostei, como quem gosta de um bom filme hollywoodiano, como quem já conhece as histórias.

Afinal, de Carlos Castañeda eu fora um dia fã, lera as aventuras (?) do feiticeiro Dom Juan na saída da adolescência – e para mim, o que PC fazia em seus primeiros livros era apenas mais do mesmo: Castañeda requentado, em linguagem popular e direta, em meio a um amontoado de clichês sincretistas.

Depois li “À Margem do Rio Piedra...” e entendi que a busca pelo transcendente havia pego nosso escritor de jeito, tinha feito ele se aproximar de tradições católicas e tal. Respeitei sua busca e vi que havia ali algo de verdade.

Depois não li mais nada.

Com o tempo, aquele papo de “guerreiros da luz” e que tais me parecia incompatível com as minhas próprias buscas. Aí veio o Marcelo Mirisola, com seu humor ácido e cortante, dizer em uma entrevista na TV que “quem anda de lotação todo dia não tem lenda ‘pessoal’, tem mais é que...”, “pensar nessas coisas é pra desocupado”, etc, etc e eu ri, ri muito.

Esses dias andei às voltas com “O Zahir” e fiquei absolutamente surpreso. Não que o livro seja maravilhoso ou algo que o valha. É apenas mediano, na minha humilde opinião. Tem problemas na estrutura do enredo, um “plot” fraco, que não se sustenta por tantas páginas, tornando-o por vezes enfadonho. Mas parecer “verdadeiro”. É irônico, nada auto-indulgente, assustador em seu mergulho aparentemente autobiográfico e não se parece em nada com os primeiros livros do cara – aqueles, que disse ali em cima ter lido.

Nele, PC ousa ir na contramão de seus “ensinamentos” para simplesmente expor, despojado de boas maneiras, seu cotidiano de celebridade, de escritor e de marido; numa trajetória que não apresenta “respostas”, somente insiste na busca. E que reflete uma profunda angústia no modo de ver a sociedade contemporânea que jamais deveria ser desconsiderada partindo de um homem que, hoje, já viajou o mundo através da literatura (em seus sentidos amplo e restrito, pessoal), é interlocutor de personalidades marcantes e -= para dizer o mínimo – deve ter visto coisas, lugares e pessoas mais díspares que a maioria absoluta de seus compatriotas jamais sonhou encontrar. Um sábio? Não, ele mesmo não se acha assim. Apenas uma antena: muito bem posicionada.

E como ele ousa: fala sobre dinheiro da forma mais crua possível (na melhor passagem do livro), enreda-nos numa busca que nos parece inútil por mais de 200 páginas e provê com um final intrigante.

É mais do que eu poderia esperar como leitor. Como escritor que sou, hora “despir-me de minha história pessoal” e aplaudir a ousadia. Não que o livro seja maravilhoso ou algo que o valha. É apenas mediano. Mas vale.

P.S. Ah! Para aqueles que o acusam de “roubar idéias alheias”, Paulo Coelho dá, no posfácio, uma lista de referências e conceitos “emprestados. Bingo!

Renato van Wilpe Bach
Enviado por Renato van Wilpe Bach em 25/01/2006
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