"Ilusões desnudas – Ronaldo Torres.// Por Maria Olimpia Alves de Melo"

15/09/2008 21h06 - EDNA LOPES

Merô, Querida amiga e companheira de Recanto. Nos últimos dias ando em lágrimas de extremos: tristeza pela perda de amigas queridas, alegria pela chegada do livro e pela tão sonhada Anistia de Tom, depois de 23 longos anos de espera. Alegria muita pela tua carinhosa resenha e pela tua "apresentação" na contra capa.***Sou suspeita pra comentar o que Tom escreveu/escreve pois muito do que está no livro surgiu de nossas conversas e interações. Peço licença para publicar sua resenha em meu cantinho, posso? Um abraço!!

De: Maria Olimpia Alves de Melo

Para mim: Claro que pode.

Merô.

Ilusões desnudas – Ronaldo Torres.

Conheci Ronaldo Torres aqui, no Recanto das Letras, e logo nos tornamos amigos. A empatia foi natural e passamos a ser leitores um do outro. E agora, feliz como se fosse meu, recebo o livro impresso do Ronaldo: Ilusões Desnudas. Editado pela CBJE (Câmara Brasileira dos Jovens Escritores), o livro é lindo. É um livro: você pode cheirá-lo e acariciá-lo antes de abrir e começar a ler. E depois, seguir o conselho que veio impresso na orelha: ”... leitura perfeita para um final de tarde, deitado numa rede, ouvindo o canto dos passarinhos e o balançar dos galhos das árvores ao sabor da brisa suave (Luiz Eudes Cruz de Andrade). Tirando fora a rede, com a qual nunca me acostumei, foi o que fiz. Na verdade, reli. Lá fora, entrando pela janela do meu quarto, além dos passarinhos, um cão latindo. Tarde perfeita.

Ronaldo, a quem todos chamam de Tom, é um escritor completo: Escreve contos, crônicas, poemas e o que mais lhe aprouver, porque sabe do mister, o segredo. Dele tive a audácia de resenhar um conto, publicado aqui, em capítulos: O homem que pensou ser Deus. E audácia maior, aceitar o convite para escrever a contra capa do livro. O que fiz com carinho. E de audácia em audácia faço esta resenha para apresentar a vocês o livro do meu amigo.

Seus escritos ora são ternos e suaves, ora irônicos e bem humorados. Busca inspiração dentro da própria vida e recupera as lembranças do Junco, onde passou a infância, tempo que o marcou para sempre. E o marcou tanto que considera ter sido esta a sua sorte maior: A minha sorte maior/foi ter nascido poeta/na centro da caatinga/do Sertão brasileiro (...). Sua memória, porém vai mais longe, buscando o poema nos arquétipos distantes encontrados no folclore e na mitologia. Canta a chuva e a noite procurando na insônia e no sonho registro para a sua alegria e sua dor. Sabe usar a palavra em jogos sutis e ritmados. O poema que dá título ao livro joga ao chão a ilusão humana de ser mais do que é, desnudando o homem em sua pretensão de ser o que não é. Começou o poema, Carta aberta a uma entidade falida, com o verso antológico: não te aborreças se um dia eu falar de saudades. E sintam a beleza da última estrofe do amargurado Rotina: Os passos lentos,/cautelosos,/preguiçosos,/vagarosos,/saúdam a rotina/do recomeçar:/ -Bom dia, patrão!

A capa do livro é de Allan Oliveira. Engrenagens monocromáticas em vermelho, o título em negro refletido como em um espelho, em branco. Muito bonita. Em uma página em branco, a dedicatória: Para Edna (Edna Lopes, também minha amiga e companheira no Recanto),Flávia, Cláudia,Ivo e Vinicius, e para os netos Bia e Gabriel.

Não sei o preço do livro. Ganhei. Mas, se não tivesse ganhado, teria comprado. Por qualquer preço. Para ter sempre em mãos, comigo, os versos de um amigo realmente talentoso.

Maria Olimpia Alves de Melo

Publicado no Recanto das Letras em 14/09/2008

Código do texto: T1178063