Amor doentio de mãe - romance de Joice Lima

Joice Lima, jovem jornalista de Pelotas e com muita experiência literária, lança a obra amor doentio de mãe /2006: 204), narrativa rápida e de boa leitura. Sara, a protagonista, perfaz o papel de mãe, extremamente dedicada a seu único e muito desejado filho. Amor grande que lhe gera os sentimentos de plena posse do filho e logo os mecanismos que dele afastam sucessivamente quer o pai, quer as namoradas.

Além deste pólo actancial, outro - e de maior visibilidade -, é a forma imediata e quase instantânea de firmar sua atividade sexual em formas de crescente novidade e complexidade. Com o afastamento rápido do marido, ela dá-se a licença de, em bons termos do pastiche pós-modernista, operacionalizar os blocos comportamentais, adpostos de forma um tanto paratáxica, por isso com as conexões nem sempre imediatamente captáveis.

Desse modo, Sara salta aos o-lhos do leitor na correspondência muito exata de um modelo ou padrão de mulher dos dias atuais. Claro, não único padrão. Mas um deles. No caso um modelo de mulher, em sua autorrealização total, pessoal: se o ex-marido a trocou pela pedofilia, ela também pode ser e praticar sexualmente o que deseja.

Mais. Se o filho saiu de suas entranhas, esse mesmo filho é dela e à base disso há de afastar-lhe as pretensas namoradas e até matá-las. Nada de amor edipiano ou algo parecido. Por isso, a obra joga com contradições, as soluções quase patafísicas. Já no breve prólogo Sara se auto-apresenta e se justifica: sempre foi aquilo que uma boa mãe deve ser; os piores algozes da história moderna (cita Hitler, Bin Laden, Bush) sempre agiram em defesa dos seus... e tudo fizeram por amor. “O amor é - e isso é senso comum - o que há de mais nobre e soberbo neste mundo”.

Assim, a narratividade, rolando na primeira pessoa, firma-se nas sucessivas cenas, apressadas e tangiveis, que se apresentam elas-mesmas e falam por si. De fato, Joice Lima tem essa facilidade de, em bons termos atuais, orquestrar uma excelente narratividade em que o sujeito afrouxa e por vezes desaparece. A presença do sujeito as cenas a reconstrói.

Saudamos Joice Lima por este avanço no panorama da novelística atual.