RESUMO DO IV CAPÍTULO DO LIVRO CASA-GRANDE & SENZALA “O ESCRAVO NEGRO NA VIDA SEXUAL E DE FAMÍLIA DO BRASILEIRO” DE GILBERTO FREYRE

Neste capítulo o autor coloca de forma clara a qualidade do negro africano e sua importância para o desenvolvimento do Brasil enquanto agrário e colônia de Portugal, em comparação ao índio brasileiro. Dessa forma, caracteriza o índio como “introvertido” e com uma extrema falta de expressividade e o negro como “eloqüente”, domável e “extrovertido” entre outras qualidades que fizeram desse povo uma força para o desenvolvimento econômico e cultural do nosso país.

O autor põe uma linha divisória entre o negro e o índio, pois as duas raças têm comportamentos diferentes e explica que apesar de os índios serem nativos de um país tropical e quente, como o nosso, não tinham a mesma predisposição para o trabalho forçado em "dias de sol", como os africanos, pelo contrário, os índios “sentiam-se melhor em dias de chuva” já os africanos se comportavam muito bem neste clima para o trabalho.

As habilidades dos negros em trabalhar a terra e de fundir o ferro foram os predicados que os fizeram tão importantes para os brancos naquele contexto social. Gilberto Freyre coloca muito bem a gêneses do africano, onde naquela região se desenvolveu a mais bem sucedida cultura que já existiu na antiguidade, representada pelos egípcios, e vai mais além, compara-a com a dos próprios portugueses e acredita que seria até superior tanto quanto a dos índios brasileiros. De um todo, esta afirmação não está errada, pois segundo Schmidt (2002) “os egípcios eram povos africanos de pele escura [...] têm uma aparência nitidamente africana: lábios grossos e cabelos crespos, que eram trançados [...]”.

Segundo o autor, “todo brasileiro” tem um pouco de sangue negro e defende a genuinidade dos africanos em prol da construção do Brasil, pois os navios negreiros trouxeram não só a negritude e a força daquele povo, mas também sua cultura, sua religião, seus hábitos, sua culinária, sua perspicácia, sua audácia, sua sexualidade, sua beleza, etc., estes dois últimos atributos fomentaram a transformação do comportamento dos brancos que aqui habitavam e que não se continham ao admirar tanta altivez, sagacidade e força, predicados que ativaram e alimentaram seus instintos libidinosos.

Para explicar a atração que os brancos sentiam (sentem) pela pele escura, Freyre tem três argumentos tácitos. O primeiro é que o clima seria o responsável pela libertinagem desenvolvida pêlos donos das senzalas em detrimento aos negros. O segundo, aponta a voluptuosidade das negras, em particular, em que eram culpadas pela luxúria praticada pelos da casa-grande. Já a terceira, aponta o Sistema de Governo, escravocrata, em que a obediência e a submissão era regra geral e isso mantinha os negros e negras sob as ordens e os prazeres dos senhores donos de terras, que por sua vez, praticavam apenas o "ócio" e este fomentava ainda mais a imaginação lasciva pela depravação.

Vê-se que nessa obra, Freyre destaca a influência da religião mulçumana trazida da África pelos negros "malês", sobre a católica praticada pelos da casa-grande, a influência foi tanta que existem traços "islamistas" até hoje na religião do país. Outro ponto abordado pelo autor foi a língua falada pelos negros, principalmente pelas negras que viviam nas casas grandes, pois estas além de alimentar os filhos dos brancos com seu leite, também os alimentavam culturalmente.

Sabe-se que a língua falada pelos brasileiros foi extraída do Português em si, os quais trouxeram todo seu vocabulário e o implementou aqui, porém a negra “ama-de-leite” ao pronunciar com carinho algumas palavras da língua portuguesa reduziu de certa forma, a pronúncia, tendo como exemplo “papá”, “papato”, “au-au”, “dindinho” “pipi” entre outras. Diz Freyre que as negras “amoleceram” a pronúncia, tornando-as “moles”. Temos muito em comum com os africanos, herdamos parte de sua cultura, entre outras, a arte de contar histórias para dormir, as cantigas de ninar, os contos e o jeitinho manso falar, vê-se isso ainda muito forte no Estado da Bahia e em partes de Pernambuco, segundo o próprio autor.

Porém, ao alimentar o filho do “branco”, as negras transmitiram às crianças, a sífilis, doença sexualmente transmissível e que também passa através do leite. Mas isso já não importava tanto naquela época, pois essa doença era “doméstica”, conseqüência do sexo desprovido de segurança e praticado com muita banalidade entre os da casa-grande e os da senzala, como vimos no início desse resumo, em que o negro de certa forma “despertou” o sexo nos brancos em que as negras eram perfeitas para essa prática.

Nota-se que temos muitos traços negróides, tanto física como cultural, o primeiro torna o brasileiro um povo de pele “colorida” com nádegas grandes, olhos expressivos e sorriso largo. Já culturalmente, fomos presenteados com uma singularidade extrema, com a praticidade, expressividade, comunicação, extroversão e alegria, onde "quase nada nos tira do sério”. Isso tudo porque os navios negreiros trouxeram para cá os hontetotes, os bantos, os sudaneses, os nagôs, os berberes e os boximanes entre outros, inclusive da região do antigo Egito para contribuir com o crescimento do país, mesclando assim nossa cultura e nosso comportamento, sem falar da cor.

Mas, o que realmente fez com que o comércio de pessoas fosse iniciado aqui no Brasil? O que levou os “brasileiros” a escravizar os negros? Ora, precisávamos de pessoas que trabalhassem muito por pouco, ou quase nada; precisávamos de pessoas que soubessem fundir o ferro e por vez, cultivar a terra; precisávamos de pessoas fortes e trabalhadoras; precisávamos de mulheres, pois estas estavam em “falta”.

Essas características encontravam-se nos negros da África e foram usadas como critério de seleção, principalmente para os Estados da Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro, tendo em vista sua localização geográfica, e Minas Gerais, devido a extração do minério, trabalho realizado com muito afinco naquela época, e os índios não davam conta de realizá-los com presteza e sabedoria, pois não tinham essa tradição, devido sua pouca habilidade de pensar.

Ficou clara a intenção de Fryre, que foi mostrar que a função do negro em nosso país foi contribuir para o crescimento intelectual, social e econômico e que por estarem em escravidão, sucumbiam aos desejos e prazeres dos brancos, não por serem negros, mas por estarem na condição de escravos.

Da casa-grande à senzala desenvolveram-se relações de poder, subordinação, sedução e sexo, este último gerou prazeres, amores, castigos e também uma doença que aos poucos foi considerada normal por estar generalizada em todas as casas grandes e senzalas, a sífilis.

O regime escravocrata sustentou a luxúria, desobrigou o branco de sua moral, fez do negro objeto de trabalho e prazer de todas as formas possíveis, inclusive como “brinquedo de criança”, como remédio "uma pretinha virgem para curar a sífilis”, “donas de casa” ,“amantes”, "reprodutores”, etc.

Ao negro, principalmente às negras, de corpos desprovidos de malícia, porém sensuais e opulentos em sua maioria, foi atribuída a responsabilidade de despertar a sexualidade e a cobiça do branco e seu comportamento libidinoso. No entanto, a raça escura não tem culpa por seus traços e temperamento instigantes e marcantes, eles apenas pertenciam a uma raça diferente, a uma outra região, tinham seus rituais e uma bagagem cultural significativa, ao contrário do brasileiro daquela época que vinha de uma hereditariedade indígena, com pouco conhecimento e européia, com habilidades a caminho da civilização e eles, os africanos, vindouros de uma há muito evoluída. Por isso este povo foi tão importante para o crescimento e desenvolvimento do Brasil.

Foi visto que existia uma dualidade lingüística da casa-grande à senzala, onde a língua dos negros se diferenciava da dos brancos. As duas se fundiram na língua que hoje conhecemos, a partir do contato social entre as duas raças, que é uma das maiores contribuições africanas.

E a partir desse contato, herdamos muito daqueles do além-mar uma pele escura e um jeito particular de ser. O vínculo criado entre a ama-de-leite e o “senhorzinho” modificou a maneira de falar, de sentir e de contar historinhas de “ninar” dos brasileiros. Além de deixar-nos muito de sua culinária, de sua dança, de sua religião e de seus rituais.

Por fim, verificou-se que o Sistema Escravocrata deixou marcas culturais, sociais e religiosas em nossa história e que o Sistema de Governo influencia diretamente no comportamento dos indivíduos, não só no campo financeiro e econômico, mas também nas relações pessoais.

autor e co-autor:Benna bandeira e Mariza Melo Xavier

benna bandeira e mariza melo xavier
Enviado por benna bandeira em 17/10/2008
Reeditado em 14/09/2011
Código do texto: T1233383
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