A disciplina do amor

Este livro é daqueles que a gente devora com ânsia de terminar, ao mesmo tempo em que pede a Deus e todos os santos que nunca acabe. Como sempre, Lygia F. Telles arrebata o leitor com sua prosa sensível e forte! Mas, além da linguagem típica de Lygia (irresistível), esse livro tem algo de especial no que toca à sua forma de composição, os fragmentos. O livro é composto por um conjunto de relatos desconexos, à maneira de uma intrigante colcha de retalhos, que foge à razão. À medida que avança, porém, o leitor vai descobrindo um fio da meada interno, que une numa lógica inexprimível a viagem à China, o gato na janela, o pacote de livros de manhã e demais idéias aparentemente “infundíveis”. E então a obra ganha uma dinâmica irresistível de parecer ora conto, ora crônica, ora diário, ora conversa pessoal com reflexão filosófica purinha. Lygia remexe pastas velhas, fala dos desenhos de vampiro, da revolução feminista, reflete sobre sua vida de escritora, relata encontros, lembra comportamentos, e faz coisas que fogem à conta, refletindo sobre a existência de forma geral. Através de relatos que à primeira vista não significam nada juntos, constrói, nessa pequena obra-prima, um grande painel sobre a vida e o amor, e sobre todas as coisas. Um livrão.

Jéssica Callou
Enviado por Jéssica Callou em 16/03/2006
Código do texto: T124174