A CRIAÇÃO DA UNIVERSIDADE E O PROJETO BURGUÊS DE EDUCAÇÃO NO BRASIL.

ORSO, Paulino José: A CRIAÇÃO DA UNIVERSIDADE E O PROJETO BURGUÊS DE EDUCAÇÃO NO BRASIL. In. Educação, sociedade de classes e reformas universitárias. Paulino José Orso (Org.). Campinas – SP: Autores Associados, 2007. (Coleção Educação Contemporânea).

Neste trabalho Orso, busca fugir um pouco das análises pontuais e circunstanciais. Volta à história para verificar quando e como surgiu a universidade brasileira. Busca precisar quem foram seus principais idealizadores e com que finalidade ela foi criada. Apresenta o processo tardio do ensino superior no Brasil, comparado com os outros países integrantes da América do Norte e do Sul: “em 1920, ainda não havia sido criada no Brasil e na América do Norte já existiam 76 e na América do Sul mais 26, totalizando 102 universidades” (ORSO, p. 44). Contudo o que mais preocupa são os motivos que levaram a criação das universidades neste momento. A idéia de criar uma universidade no Brasil vinha desde a colônia. Porém, todos os modelos eram criticados pelos liberais por estarem avessos aos ideais de liberdade na medida que propunham a extinção das faculdades provinciais ou sua subordinação à corte. Segundo Roque Spencer, citado por Orso, o insucesso na instituição das universidades no Brasil são de ordem filosófico-ideológicas e não devido a problemas financeiros. Ou seja, tinha-se medo do modelo napoleônico centralizador. Este medo fortaleceu o grupo contrário à criação da universidade. Para o consentimento da universidade ela foi atrelada à noção descentralização, ganhou força a defesa da liberdade. Dessa forma, “com ou sem universidade, o fundamental passou a ser a defesa do ensino livre” (ORSO, p. 47).

Assim a liberdade de ensino esta em disputa e colocada no centro da discussão sobre a centralização ou descentralização. A liberdade não comportava um sentido unívoco. Havia diferentes concepções de liberdade e de universidade. Assim se diferenciavam o modo de entender dos liberais clássicos, dos positivistas e dos Católicos que estavam convictos de possuírem a verdade absoluta. Deste modo, a liberdade de ensino passa a se constituir em um obstáculo para a instituição da universidade. Para Spencer, não há incompatibilidade alguma entre universidade e liberdade de ensino. Já a propaganda positivista associou a universidade a falta de liberdade e daí o descrédito de tal instituição. Contudo segundo Orso: “ não eram só os positivistas que se opunham aos projetos “napoleônicos”. Cada um com seus motivos, tanto os liberais quanto os católicos e os positivista, opunham-se à criação da universidade” (p.48). Porque a universidade estava ligada aos interesses do império. A conservação das crenças tradicionais através da educação. O conservadorismo se estende até 1915. Em, 1911 a criação da universidade já começa a ficar para segundo plano. No geral, os positivistas (Miguel Lemos e Teixeira Mendes), opuseram-se a criação da universidade. Vários eram os interesses em disputa e a pretensão era a de que o Estado se ausentasse do financiamento do ensino superior. Assim, tendo em vista interesses determinados e distintos defendem o “ensino livre”. Se é para ser centralizado no governo é melhor que não se tenha universidade.

Anteriormente a primeira guerra mundial Spencer acreditava que o Brasil estava a viver um momento diferente em relação aos demais países desenvolvidos. Logo bastaria acelerar a marcha e logo alcançaríamos estes países desenvolvidos (ideologia do cientificismo). Para se atingir o universal é necessário desenvolver o nacionalismo do povo. Em 1922 à viragem modernista onde a universidade é apresentada como algo necessário para a realização dos ideais nacionalistas. A universidade passa a ter o papel de adaptar a democracia no Brasil, de colocar o Brasil em pé de igualdade com as outras nações. A visão dos liberais sobre a de que a educação superior como a principal força inovadora da sociedade, capaz de transformar os homens, renovar a face da nação e torná-la livre e justa. Ou seja, devia esta promover a revolução espiritual na sociedade brasileira. Para Fernando de Azevedo a universidade é vista como um caminho para a ascenção social (democratização).

Tendo presente que a educação era tida como o principal problema da sociedade brasileira, em 1934, durante o governo de Getúlio Vargas se criou a primeira universidade do Brasil. A instituição da universidade no pós 1930 tem germe na tradição liberal. Aproveitou-se o fato de Armando estar interventor no Estado de SP e criou-se a USP em 1934. O objetivo da USP esta voltado para a formação das elites e dos mais capazes, “os mais talentosos”. Busca-se forjar uma elite intelectual capaz de orientar todas as classes sociais. A universidade em função da doutrina nacional. Portanto, não houve neutralidade na “criação” da universidade. Outros fatos demonstram que derrotados pelas armas em 1930, os paulistas buscam outros recurso para recuperar a hegemonia perdida. A universidade seria responsável pela formação dos futuros formadores. Assim, se atingiria toda a população. Portanto, foi no momento certo que surgiu a universidade brasileira. Trata-se da revolução liberal.

Foi preciso buscar professores na Europa, pois aqui não os tínhamos. E não eram professores quaisquer. Eles tinham que ter orientações liberais, que repudiavam os credos fascistas e nazistas. Era preciso reciclar as elites dentro das concepções liberais para fazer a revolução democrática antes que o povo a fizesse. Entretanto, a USP não atinge os resultados pretendidos devido o fascismo do Estado Novista de 1937. Por este motivo, Spencer de Barros, busca por meio da Reforma Universitária recolocar a universidade no ideário liberal. Assim, “não resta dúvida de que, por trás da criação da universidade, mais do que a implementação de um projeto educacional, havia o interesse na consolidação de um projeto burguês de sociedade ou então, por meio da educação, tratava-se de viabilizar esse projeto de sociedade. (Fim)

SolguaraSol
Enviado por SolguaraSol em 24/10/2008
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