Rafael Grampá's Mesmo Delivery

Não é de hoje que o nome de Rafael Grampá aparece nos noticiários sobre Hqs, e não só nos brasileiros, mas de todo o mundo! E não é para menos, afinal nos últimos meses o gaúcho ganhou, junto com Fabio Moon e Gabriel Bá, o cobiçadíssimo prêmio Will Eisner (aquele que alguns adoram chamar de O Oscar dos Comics) ComicCon em SanDiego, de melhor antologia com a revista 5, além de ter sido convidado pela DC para assumir o posto de desenhista da revista Hellblazer, ao lado de Brian Azarello e David Lloyd.

Engana-se quem acha que a carreira desse brasileiro começou ontem ou que seus trunfos foram resultados de pura sorte! Grampá já está na estrada a muito tempo, já tendo trabalhado nas mais diversas funções, de ilustrador de livros, diretor de arte em agências de publicidades e co-autor de Hqs de sucesso. A única coisa que ele não tinha em seu (invejável) currículo era uma HQ própria, que pudesse chamar de unicamente sua. Não tinha!

Mesmo Delivery foi lançado em agosto lá fora, mas só agora chega ao Brasil pelas mãos da editora Desiderata (54 páginas, papel couchê mate 115g – preço R$ 39,90). O tratamento dado a edição no Brasil é luxo, sem deixar nada a dever para a edição americana, afinal não é para menos, pois apesar de ser o primeiro trabalho solo de Grampá, este esá longe de ser um produto de um marinheiro de primeira viagem.

Você gosta de Matanza? Pois saiba que essa Hq é no melhor espírito Pé na Porta e Soco na Cara – por acaso recomendo a música como trilha sonora para leitura. Um ex-boxeador que se torna caminhoneiro e pega a estrada, mas que no meio de sua viagem resolve parar em uma sinistra pensão à beira de estrada para tomar uma cerveja. Uma história repleta de gente bacana, feliz, de paz e de bem com a vida.

Tanto a história quanto a arte são do próprio Grampá, e ambas são alucinantes. Poucas vezes tive a oportunidade de encontrar um conjunto tão F.O.D.A. quanto esse de Mesmo Delivery, principalmente no que tange aos Hqs atuais. As cenas são cinematográficas (sobre este comentário eu recomendo e muito a leitura do texto introdutório, escrito por Lourenço Mutarelli), e os traços firmes mas tortuosos de Grampá se juntam com as sombrias cores, escolhida pelo próprio autor e executadas por Marcus Penna, garantem um tom sóbrio, cruel e real a trama.

No decorrer da decoração do livro e do cenário você encontra uma série de elementos atuais que se juntam com outros que nos trazem um ar ora anos dourados, ora rota 66, criando uma história fora do tempo e do espaço, que poderia estar acontecendo 20 anos atrás no Brasil, semana passada nos Estados Unidos ou em qualquer outro lugar/período que você possa imaginar.

Enfim, um trabalho primoroso de um artista que faz por merecer. Sei que o preço pode vir a assustar no início por ser salgado, mas acredite, Mesmo Delivery vale cada centavo. Do papel, a capa até a impressão, todos os detalhes são de primeiríssima qualidade. Para fechar, uma frase que já está para lá de batida, mas que é bem verdeira neste caso: esse é um item mais que obrigatório para qualquer amante da nona arte!